sexta-feira, junho 29, 2012

SINGAPURA


F A C E    O C U L T A


O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário
                                                                                                       Albert Einstein



S I N G A P U R A



            Uma ilha do tamanho da Madeira com 5 milhões de pessoas que conseguiu atingir um PIB per capita de 60 mil dólares, um valor impressionante face aos modestos 16 mil euros de Portugal em 2011.

            Valor que nos vêm demonstrar que é possível crescer de forma robusta e sustentável mesmo perante factores adversos como mercados domésticos limitados, pequenos territórios e população excessiva.

            Portugal com os seus 10 milhões de pessoas, uma costa extensa, recursos do mar ampliados pelas Regiões Autónomas e um território diversificado com um clima ameno tinha, à partida, vantagens claras.

            Houve em Singapura, essencialmente, uma visão estratégica de crescimento e a coragem para a pôr em prática. Utilizando quatro ferramentais fundamentais: planeamento, excelência, corrupção zero e primado da lei.

            Apostando nos portos, nas finanças e nas novas tecnologias como as da informação e da biotecnologia. Com base numa sociedade extremamente bem organizada e respeitadora dos princípios da convivência em comunidade.

            Em Singapura respira-se segurança, desenvolvimento e prosperidade. Tirando proveito da proximidade dos dois gigantes em ascensão – China e Índia – tem criado condições para atrair homens de negócios estrangeiros ao baixar impostos num cenário de economia estável e de leis amigáveis do negócio.

            Não sendo possível transpor para o nosso país o que lá se passa fica, contudo, demonstrado que se tivéssemos adoptado as ferramentas que constituíram a base do seu sucesso estaríamos certamente muito melhor.

            Porque nos faltam precisamente planeamento e excelência e não conseguimos nem combater a corrupção nem impor um estado de direito. E seguramente também nos falta uma visão estratégica de desenvolvimento.

            As comparações valem, todavia, o que valem e a vida em Singapura não será um paraíso e em Portugal também há excepções em que o planeamento e a excelência têm estado presentes. Tudo é relativo.

            Mas poderíamos estar a coberto desta crise se tivéssemos tido menos política e mais economia, mais pragmatismo e menos demagogia. Sem trabalho não há sucesso e o primado do mérito é indispensável.

            A utopia do crescimento contínuo e da abastança sem trabalho minaram a nossa resiliência e tornaram-nos vulneráveis a investimentos caros e inúteis desaproveitando as oportunidades de ouro dos fundos europeus. Não paramos para pensar, chutámos apenas bola para a frente e fomos arrecadando défice.

            Chegados aqui há forçosamente que aguçar o engenho e arte e abrir as portas a um tempo de rigor, seriedade e apoio à economia que cria riqueza enterrando a economia de casino que viveu (e ainda vive?) à custa do estado.

            Portugal é viável e recomenda-se mas muito tem que mudar para além de subir impostos e aumentar o desemprego.

           
           




P E D R O     D A  M  A  S  C  E  N  O 

sexta-feira, junho 08, 2012

ESPIRITO SANTO

E S P Í R I T O     S A N T O


Decorreu no fim-de-semana passado na Ilha Terceira o V Congresso Internacional do Divino Espírito Santo. Evento que já teve lugar no Brasil e Estados Unidos. Uma forma da “família açoriana” vivenciar uma tradição religiosa e cultural que remonta ao século XV.

Possivelmente por iniciativa da Rainha Santa Isabel o culto do Espírito Santo conheceu um grande incremento em Portugal, à revelia da ortodoxia religiosa, tendo tido muita importância em Alenquer e Tomar.

O culto do Divino Espírito Santo nos Açores remonta ao início do povoamento e terá vindo por mão dos franciscanos sendo comum a todas as ilhas e sendo, ainda hoje, uma fortíssima “marca” identitária da Região.

Espírito Santo que progressivamente se tem vindo a cingir a uma prática tradicional e etnográfica tendo perdido, fortemente, o seu carácter místico de fonte de todo o saber e a sua independência face à Igreja.

O culto nasce sob o signo da igualdade e fraternidade centrando-se nos mais desfavorecidos e na ligação do homem à Natureza fugindo a uma religião organizada e canónica e valorizando as práticas comunitárias.

Dizia Agostinho da Silva que o Império do Espírito Santo é não perder nenhuma das características de ser homem e ganhar todas as que se atribuem a Deus. Apelando desse modo à transcendência e aos ganhos espirituais numa visão universalista e fraterna.

O isolamento dos Açores e as dificuldades das suas gentes mantiveram intacto o culto que em Portugal foi declinando. A solidariedade necessária às dificuldades da sobrevivência mantiveram-no vivo.

E daqui partiu para aonde partiram os açorianos nomeadamente para as terras do Brasil e da América. E que agora se juntam em congresso internacional que aposta no culto do Espírito Santo como património imaterial da humanidade.

O conceito de fonte de todo saber e toda a ordem é bem antigo e remonta aos conceitos taoistas de energia universal que tudo faz criar e mover. Uma força que se sente e partilha mas que não é possível explicar.

A essência da alma, a sua força motora e aquilo que mesmos os ateus, puros e duros, têm dificuldade em contestar. Algo que nos confere uma energia que não depende apenas do nosso organismo finito e limitado.

Espírito, algo imaterial que tudo permeia e que não é possível descrever. Santo, algo que deve ser respeitado acima de tudo. Espírito Santo, a síntese de tudo isso – o que nos dá acesso à transcendência e nos permite a divinização.

Sendo um valor religioso e cultural da maior importância para os Açores e para a Diáspora é, igualmente, vital que retome os valores espirituais que a cultura urbana e o consumismo lhe tem vindo, progressivamente, a retirar.

Os símbolos e as práticas etnográficas são parte integrante desse património imaterial mas necessariamente uma parte menor. A maior, a pujança espiritual que nos foi estimulada pelo isolamento e pelo sofrimento, deveria ser o fulcro do ressurgimento do Culto do Divino Espírito Santo.

A aposta no acesso ao estatuto de património imaterial da humanidade é certeira e justa mas só será plena se conseguir trazer de volta as práticas imateriais que lhe deram origem e o tornam único.


P E D R O D A M A S C E N O