sexta-feira, junho 08, 2012

ESPIRITO SANTO

E S P Í R I T O     S A N T O


Decorreu no fim-de-semana passado na Ilha Terceira o V Congresso Internacional do Divino Espírito Santo. Evento que já teve lugar no Brasil e Estados Unidos. Uma forma da “família açoriana” vivenciar uma tradição religiosa e cultural que remonta ao século XV.

Possivelmente por iniciativa da Rainha Santa Isabel o culto do Espírito Santo conheceu um grande incremento em Portugal, à revelia da ortodoxia religiosa, tendo tido muita importância em Alenquer e Tomar.

O culto do Divino Espírito Santo nos Açores remonta ao início do povoamento e terá vindo por mão dos franciscanos sendo comum a todas as ilhas e sendo, ainda hoje, uma fortíssima “marca” identitária da Região.

Espírito Santo que progressivamente se tem vindo a cingir a uma prática tradicional e etnográfica tendo perdido, fortemente, o seu carácter místico de fonte de todo o saber e a sua independência face à Igreja.

O culto nasce sob o signo da igualdade e fraternidade centrando-se nos mais desfavorecidos e na ligação do homem à Natureza fugindo a uma religião organizada e canónica e valorizando as práticas comunitárias.

Dizia Agostinho da Silva que o Império do Espírito Santo é não perder nenhuma das características de ser homem e ganhar todas as que se atribuem a Deus. Apelando desse modo à transcendência e aos ganhos espirituais numa visão universalista e fraterna.

O isolamento dos Açores e as dificuldades das suas gentes mantiveram intacto o culto que em Portugal foi declinando. A solidariedade necessária às dificuldades da sobrevivência mantiveram-no vivo.

E daqui partiu para aonde partiram os açorianos nomeadamente para as terras do Brasil e da América. E que agora se juntam em congresso internacional que aposta no culto do Espírito Santo como património imaterial da humanidade.

O conceito de fonte de todo saber e toda a ordem é bem antigo e remonta aos conceitos taoistas de energia universal que tudo faz criar e mover. Uma força que se sente e partilha mas que não é possível explicar.

A essência da alma, a sua força motora e aquilo que mesmos os ateus, puros e duros, têm dificuldade em contestar. Algo que nos confere uma energia que não depende apenas do nosso organismo finito e limitado.

Espírito, algo imaterial que tudo permeia e que não é possível descrever. Santo, algo que deve ser respeitado acima de tudo. Espírito Santo, a síntese de tudo isso – o que nos dá acesso à transcendência e nos permite a divinização.

Sendo um valor religioso e cultural da maior importância para os Açores e para a Diáspora é, igualmente, vital que retome os valores espirituais que a cultura urbana e o consumismo lhe tem vindo, progressivamente, a retirar.

Os símbolos e as práticas etnográficas são parte integrante desse património imaterial mas necessariamente uma parte menor. A maior, a pujança espiritual que nos foi estimulada pelo isolamento e pelo sofrimento, deveria ser o fulcro do ressurgimento do Culto do Divino Espírito Santo.

A aposta no acesso ao estatuto de património imaterial da humanidade é certeira e justa mas só será plena se conseguir trazer de volta as práticas imateriais que lhe deram origem e o tornam único.


P E D R O D A M A S C E N O





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