FACE
OCULTA
«Roleta. f. Jogo
de azar.»
A ESTRATÉGIA DA ROLETA RUSSA
Ao colocar, à partida, nas mãos do
Dr. Mário Machado o cargo político regional mais importante, o Partido
Socialista tornou-se, antecipadamente, em seu refém absoluto.
Se o PS ganhar as eleições, o actual
Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada será o próximo presidente do
governo.
Nem mais nem menos.
Assim, um praticamente ilustre
desconhecido da política regional «arrisca-se» a ocupar um lugar da maior
relevância. Aparte um curto desempenho de funções autárquicas, ainda que no
maior município açoriano, umas entrevistas na RTP/Açores e uns bons índices,
segundo se diz, em sondagens encomendadas pelo PS pouco mais se sabe do Dr.
Mário Machado.
Sem pretender desqualificar o cidadão,
que como qualquer outro deve merecer todo o nosso respeito, é indiscutível que
se trata de um curriculum político muito pobre para o desempenho de funções que
exigem grande e comprovada experiência, bom conhecimento dos dossiers
regionais, capacidade negocial e de estabelecer consensos e, acima de tudo,
capacidade de liderança de um estado democrático.
Não faz nenhum sentido que o Partido
Socialista tenha travado durante todos estes anos um prolongado e árduo combate
político como maior partido de oposição e em que, tantos e tão capazes,
militantes se empenharam para entregar, de mão beijada, o poder a um
desconhecido que, ainda por cima, nem socialista é.
O único sentido que se pode
descortinar em tal estratégia é o desespero de finalmente chegar ao poder, seja
a que preço for. Nem que para isso tenha tido que sacrificar os seus princípios
programáticos, a sua democracia interna, a dignidade do seu líder e os
legítimos direitos de militantes com provas dadas.
Será, assim, tão importante assim
para o relançamento da imagem do Eng. António Guterres e do PS nacional uma
vitória (?) do partido dos Açores?
Por muito simpático, populista e bom
gestor que seja, o Dr. Mário Machado é uma perfeita incógnita para os açorianos
em geral e socialistas em particular. E não será a sua peregrinação pelas ilhas
nem a campanha eleitoral que o irão dar a conhecer. Porque propaganda não passa
de propaganda.
Com base nos dados que se dispõe, o
candidato a presidente do governo regional proposto pelo PS tanto pode vir a
ser bom, assim-assim ou mau como, muito mau. Será mais uma questão de fé, amor
à camisola ou, então de voto útil.
Porque não se sabe se é o Partido
Socialista que está a reboque do Dr. Mário Machado ou se é este que anda a
reboque do PS. Mas pelo que se tem ouvido nas declarações do candidato, pela
composição de alguma listas e por histórias de Ponta Delgada, o mais provável é
que seja o PS que anda a reboque do Dr. Mário Machado.
Até pode ser que haja um acordo
secreto, escrito em tabelião e tudo, que dê ao PS todas as garantias que o seu
candidato vai ser, na prática, um zeloso governante ao serviço do partido que o
elegeu do socialismo democrático. Mas se
há, os eleitores não o conhecem e, portanto, terão de se limitar a acreditar
nas declarações de boas intenções.
Ao apostar nesta estratégia o PS
apostou no tudo ou nada: se ganhar vai ficar com um sarilho,
de todo o tamanho, nos braços mas sempre poderá inebriar-se com a tão desejada
vitória e esperar que o exercício do poder lhe dê uma oportunidade para pôr a
casa em ordem; se perder vai ficar em cacos.
Ao puxar o gatilho o partido Socialista não
sabe se tem alguma bala na câmara ou não. Uma verdadeira estratégia de roleta
russa.
P
E D R O D A M A S C E N O
Nota:
O último «FACE OCULTA» intitulado «AD
– Açores: um arremedo de «Sá Carneiro» regional?» trouxe um parágrafo com uma
gralha que lhe alterou o sentido, deveria ler-se assim: «Será difícil que
alguém venha a acreditar na validade política de uma proposta que pretende ser
um frentismo anti – Mota Amaral, mas que tem no seu interior o vírus da sua
própria doença. Seria como tratar um doente com Sida dando-lhe transfusões com
sangue infectado com a doença.»
O nosso colaborador Pedro Damasceno não tem qualquer
suspeita de que a AD – Açores tenha Sida!
As desculpas aos nossos leitores e à AD – Açores.