sábado, agosto 15, 1992

AD-AÇORES: arremedo de "SÁ CARNEIRO" regional?


FACE OCULTA



«Um aliado tem de ser vigiado da mesma maneira que um inimigo»
                                                                                                      Leon Trostky



AD-AÇORES: ARREMEDO DE «SÁ CARNEIRO» REGIONAL



As coincidências são mais do que muitas para não passarem apenas disso. Até o PPM, partido que nunca teve qualquer expressão na Região, foram buscar.

Contudo há, também, diferenças consideráveis que podem tornar a AD – Açores numa imitação, de duvidosa qualidade. Para além do indiscutível mérito de ser mais uma força política a oferecer os seus préstimos ao eleitorado açoriano, poderá haver dúvidas legítimas quanto ao seu futuro desempenho na política regional.

Desde logo porque tem como matriz o CDS, partido que sempre tem tido prestações eleitorais muito baixas. De seguida porque como uma força que tem essencialmente como referência a ilha Terceira, facto que lhe retira, uma base regional de apoio.

Mas as dificuldades não ficam por aí. É uma força que procura colher votos no eleitorado PSD, mas excluindo este partido. Ou seja vai buscar dissidentes deste partido pra funcionarem como «a peninha no chapéu». Trata-se, portanto, de uma AD sem PDS, mas a fingir que o tem.

Naturalmente que quando escolheram o nome AD – Açores, os seus mentores não o fizeram por mero acaso mas por motivos políticos e que seriam, mutatis mutandi, os da AD de Sá Carneiro, contudo o que a AD – Açores pretende não é, evidentemente, a constituição de um bloco de centro direita para vencer a esquerda liderada para vencer o Partido Socialista. Mas quase o contrário: ajudar aquele partido a derrubar o PSD. Circunstância que torna a escolha do nome difícil de perceber, a menos que se esteja perante uma perfeita demagogia destinada a capitalizar o saudosismo de certas camadas de eleitores sociais-democratas.

A AD – Açores mostra-se determinada a participar no derrube de Mota Amaral, mas propõe-se conseguir esse objectivo usando, até ao pormenor, num modelo conhecido para derrubar o PS e a esquerda. Determinação esta que levou mesmo a que o CDS cedesse a liderança desse dissidente de última hora do PSD e, ainda por cima, uma ex-figura de proa do estado laranja regional que essa mesma AD pretende derrubar!

É o que, com propriedade, poderíamos designar de «tratar o bicho com o pelo do mesmo animal»!

Se a AD – Açores o inimigo número um é o PSD/Mota Amaral porque não se coligou o CDS com o PS em torno da candidatura de Mário Machado? Porque se refugiou atrás de argumentos de ordem ética e correu a servir de base de apoio aos novos políticos de um dos grandes responsáveis pela actual situação política regional?

Será difícil que alguém venha a acreditar na validade política de uma proposta que pretende ser um frentismo anti- Mota Amaral, mas que tem no seu interior o vírus da doença da Sida, dando-lhes transfusões de sangue infectado com a doença.

O CDS pese, embora, a pequenez do seu grupo parlamentar na Assembleia Legislativa Regional deu contributos muito válidos quer para a melhoria do funcionamento daquele órgão quer para a vida política regional. Como também é sabido o CDS conta, entre os seus militantes, com quadros técnicos de valor reconhecido a que, inclusive, abriram e abrem o apetite do PS e de Mário Machado.

Porquê, então, a estratégia seguida? Será sina dos partidos da oposição regional, hipotecarem os seus líderes e dirigentes máximos e os seus princípios a hipotéticos ganhos eleitorais?

Será que o CDS acredita que poderá vir a desempenhar um papel de partido charneira na próxima assembleia, preparando-se para negociar o poder com um PDS enfraquecido e sem maioria absoluta? Ou será que não tendo, pudicamente, querido entrar na «nave» Mário Machado, se prepara para o obrigar a baixar a bola, eventualidade de ele ter de formar um governo de coligação?

E quanto ao cabeça de cartaz da AD – Açores?

Não discutimos as razões do Dr. Borges de Carvalho porque essas são óbvias. Só não percebe quem não quiser.

Fica-nos, apenas, a dúvida de qual é o seu objectivo final: simplesmente manter um lugar ao sol na política regional ou um regresso triunfal a um PSD, órfão, desorientado e vergado pela derrota?

AD – Açores: arremedo de «Sá Carneiro» regional?



P E D R O  D A M A S C E N O


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