quarta-feira, julho 15, 1992

As danças da TAP-AIR PORTUGAL e a Chamarrita da SATA


FACE OCULTA



AS DANÇAS DA TAP-AIR PORTUGAL E A CHAMARRITA DA SATA



Muitas vezes, e algumas com razão, se tem queixado a TAP-AIR PORTUGAL da SATA-AIR AÇORES. E vice-versa, também às vezes com razão.

Mas pesadas bem as coisas, e salvaguardadas as diferenças, são água da mesma fonte. Ambas portuguesas, empresas públicas e muito senhoras dos seus respectivos narizes. A TAP dos seus monopólios para as ilhas e a SATA da sua hegemonia entre elas.

Ambas também a precisar, como pão para a boca, de uma política aérea de céu aberto. De competição a sério, por outras companhias de peito. Porque senão aí continuaremos: a TAP a aperrear a SATA e esta a aperrear a OCEAN AIR – água da mesma fonte.

Porque é urgente que as leis de mercado cheguem, também ao transporte aéreo. Não, apenas, para que a TAP perca os seus monopólios ou a SATA os seus narcisismos. Mas para que ambas, finalmente, realizem que prestam serviços a pessoas que têm direito a ser tratadas como gente, a serem informadas e respeitadas. A TAP e a SATA não estão a fazer favores a ninguém. Estas duas companhias estão a desempenhar um serviço público, e como tal, de grande responsabilidade.

Quantas vezes, todos nós, temos perdido horas a fio no aeroporto sem direito a qualquer informação atempada e correcta? Quantas vezes não fomos tratados como simples objectos passivos e incomodativos para aquelas companhias e respectivos funcionários? Quantas vezes fomos, por outro lado, devidamente informados ou foram os nossos mais elementares direitos de cidadãos de um estado de direitos tidos em linha de conta?

Certamente que todo o passageiro habitual das duas companhias tem várias histórias para ouvir. Por mim vou contar, rapidamente, uma história de cada.

No passado dia 10 de Junho saiu de Lisboa para a Horta o voo da TAP. Depois da habitual viagem de 2.30 horas o avião chega à Horta aonde não aterra por falta de condições meteorológicas. Arranca para a Terceira aonde aterra. Aí, sem mais informações, os passageiros ficam retidos acerca de 2 horas. Finalmente é anunciado o embarque com destino à Horta. Cerca de 20 minutos depois o avião dá 2 ou 3 voltas sobre o aeroporto da Horta e torna a ganhar altura. Cerca de 10 minutos depois o comandante anuncia, com voz lacónica, que o avião se encontra a caminho de Lisboa. Mais 2.30 de viagem para Lisboa aonde o voo chegou pelas 23. 

Questionados os funcionários de terra da TAP no aeroporto de Lisboa, encolhiam os ombros sem qualquer explicação para dar. Até que um teve a ideia de que talvez tivesse sido por falta de alojamento na Terceira! Tudo para o Hotel (era o que mais faltava que a TAP, ainda por cima, não cobrisse as despesas decorrentes de opções exclusivamente suas) e, no dia seguinte, mais um voo de 2.30 para a Horta. Tudo isso no maior mutismo como se fosse completamente normal que em vez de optar por um aeroporto alternativo na região, se tivesse optado por impor mais de cerca de 5 horas de avião aos passageiros. Faz todo o sentido como um voo de Londres – Faro, voltar para Londres em vez de aterra em Lisboa. Até mesmo em horas de voo!

Dia 1 de Julho de 1992, o voo SP 622 da SATA Terceira – Pico não chega às 17.10 como previsto, por razões meteorológicas. Contudo o tempo rapidamente melhora. Durante toda a tarde os funcionários da SATA no aeroporto do Pico vão dando sucessivas hipóteses de horas de chegada, enquanto que na Terceira os passageiros com destino ao Pico vão vendo, sem qualquer explicação, adiamentos sucessivos nos placards. Finalmente o aeroporto do Pico informa que o voo proveniente da Terceira (via Horta) chegará cerca das 20.30 como de facto chega. Como é normal quando o avião estaciona as pessoas aproximam-se ansiosos por verem amigos, familiares e até filhos menores. 

As portas do avião abrem-se, as escadas encostam-se e aguarda-se. Mas nada acontece. Ninguém sai! As pessoas olham-se surpreendidas mas ninguém saiu! Entretanto dirigem-se ao balcão da SATA aonde um funcionário, também com ar atónico, confirma que não veio ninguém e não sabe porquê. Instado a informar-se vem finalmente dizer que a SATA, por razões comerciais (sic), tinha cancelado o voo Terceira-Pico e que os passageiros se encontram alojados no Hotel de Angra. Entretanto, do outro lado, na Terceira, as pessoas que secavam à espera do voo e de explicações desde as 15.30, foram informadas cerca das 20 horas que o voo fora cancelado. Assim mesmo.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

Com boa vontade, até poderemos imaginar que por trás das decisões na TAP  e da SATA estiveram algumas explicações lógicas, mesmo que de carácter comercial. O que ninguém pode perceber e, muito menos, aceitar são as prepotências, as incompetências e o total desrespeito pelo direito à informação dos cidadãos. Tudo isto no jeito delicado e tão comum aos funcionários das nossas companhias aéreas. Chá, café ou laranjada?

Até quando teremos de aguentar as danças da TAP e a chamarrita da SATA?



P E D R O  D A M A S C E N O


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