FACE OCULTA
AS DANÇAS DA TAP-AIR PORTUGAL E A
CHAMARRITA DA SATA
Muitas vezes, e algumas com razão,
se tem queixado a TAP-AIR PORTUGAL da SATA-AIR AÇORES. E vice-versa, também às
vezes com razão.
Mas pesadas bem as coisas, e
salvaguardadas as diferenças, são água da mesma fonte. Ambas portuguesas,
empresas públicas e muito senhoras dos seus respectivos narizes. A TAP dos seus
monopólios para as ilhas e a SATA da sua hegemonia entre elas.
Ambas também a precisar, como pão
para a boca, de uma política aérea de céu aberto. De competição a sério, por
outras companhias de peito. Porque senão aí continuaremos: a TAP a aperrear a
SATA e esta a aperrear a OCEAN AIR – água da mesma fonte.
Porque é urgente que as leis de
mercado cheguem, também ao transporte aéreo. Não, apenas, para que a TAP perca
os seus monopólios ou a SATA os seus narcisismos. Mas para que ambas,
finalmente, realizem que prestam serviços a pessoas que têm direito a ser
tratadas como gente, a serem informadas e respeitadas. A TAP e a SATA não estão a fazer favores a ninguém. Estas
duas companhias estão a desempenhar um serviço público, e como tal, de grande
responsabilidade.
Quantas vezes, todos nós, temos
perdido horas a fio no aeroporto sem direito a qualquer informação atempada e
correcta? Quantas vezes não fomos tratados como simples objectos passivos e
incomodativos para aquelas companhias e respectivos funcionários? Quantas vezes
fomos, por outro lado, devidamente informados ou foram os nossos mais
elementares direitos de cidadãos de um estado de direitos tidos em linha de
conta?
Certamente que todo o passageiro
habitual das duas companhias tem várias histórias para ouvir. Por mim vou
contar, rapidamente, uma história de cada.
No passado dia 10 de Junho saiu de
Lisboa para a Horta o voo da TAP. Depois da habitual viagem de 2.30 horas o
avião chega à Horta aonde não aterra por falta de condições meteorológicas.
Arranca para a Terceira aonde aterra. Aí, sem mais informações, os passageiros
ficam retidos acerca de 2 horas. Finalmente é anunciado o embarque com destino à Horta. Cerca de 20 minutos depois o avião dá
2 ou 3 voltas sobre o aeroporto da Horta e torna a ganhar altura. Cerca de 10
minutos depois o comandante anuncia, com voz lacónica, que o avião se encontra
a caminho de Lisboa. Mais 2.30 de viagem para Lisboa aonde o voo chegou pelas
23.
Questionados os funcionários de terra da TAP no aeroporto de Lisboa,
encolhiam os ombros sem qualquer explicação para dar. Até que um teve a ideia
de que talvez tivesse sido por falta de alojamento na Terceira! Tudo para o
Hotel (era o que mais faltava que a TAP, ainda por cima, não cobrisse as
despesas decorrentes de opções exclusivamente suas) e, no dia seguinte, mais um
voo de 2.30 para a Horta. Tudo isso no maior mutismo como se fosse completamente
normal que em vez de optar por um aeroporto alternativo na região, se tivesse
optado por impor mais de cerca de 5 horas de avião aos passageiros. Faz todo o
sentido como um voo de Londres – Faro, voltar para Londres em vez de aterra em
Lisboa. Até mesmo em horas de voo!
Dia 1 de Julho de 1992, o voo SP 622
da SATA Terceira – Pico não chega às 17.10 como previsto, por razões
meteorológicas. Contudo o tempo rapidamente melhora. Durante toda a tarde os
funcionários da SATA no aeroporto do Pico vão dando sucessivas hipóteses de
horas de chegada, enquanto que na Terceira os passageiros com destino ao Pico
vão vendo, sem qualquer explicação, adiamentos
sucessivos nos placards. Finalmente o aeroporto do Pico informa que o voo
proveniente da Terceira (via Horta) chegará cerca das 20.30 como de facto
chega. Como é normal quando o avião estaciona as pessoas aproximam-se ansiosos
por verem amigos, familiares e até filhos menores.
As portas do avião abrem-se,
as escadas encostam-se e aguarda-se. Mas nada acontece. Ninguém sai! As pessoas
olham-se surpreendidas mas ninguém saiu! Entretanto dirigem-se ao balcão da
SATA aonde um funcionário, também com ar atónico, confirma que não veio ninguém
e não sabe porquê. Instado a informar-se vem finalmente dizer que a SATA, por razões comerciais (sic), tinha cancelado
o voo Terceira-Pico e que os passageiros se encontram alojados no Hotel de
Angra. Entretanto, do outro lado, na Terceira, as pessoas que secavam à espera
do voo e de explicações desde as 15.30, foram informadas cerca das 20 horas que
o voo fora cancelado. Assim mesmo.
Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo!
Com boa vontade, até poderemos
imaginar que por trás das decisões na TAP
e da SATA estiveram algumas explicações lógicas, mesmo que de carácter
comercial. O que ninguém pode perceber e, muito menos, aceitar são as
prepotências, as incompetências e o total desrespeito pelo direito à informação
dos cidadãos. Tudo isto no jeito delicado e tão comum aos funcionários das
nossas companhias aéreas. Chá, café ou laranjada?
Até quando teremos de aguentar as
danças da TAP e a chamarrita da SATA?
P
E D R O D A M A S C E N O
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