terça-feira, agosto 31, 2004

Paisagem Protegida da Vinha e Secretaria Regional do Ambiente

Quem porfia e não cansa, sempre alcança!
DITADO POPULAR



Paisagem Protegida da Vinha
e
Secretaria Regional do Ambiente




Já vem de longe a defesa, nesta coluna, da criação de uma Secretaria Regional no Pico. Ideia álias assumida, em declarações públicas recentes, pelo actual Presidente do Governo Regional.

Com as eleições regionais, ali ao dobrar da esquina, é uma tema de grande actualidade e que bem poderia fazer parte do rol de promessas que as várias forças partidárias nos vão fazer mas, nomeadamente, as duas com hipóteses de chegar ao poder.

Defendemos primeiro a necessidade da criação de uma Secretaria do Ambiente que, entretanto, foi criada. Defendemos, a seguir, a lógica de que essa Secretaria faria todo o sentido na Ilha do Pico pelas suas carateristicas naturais das quais ressalta a integridade da nossa flora endémica - a Laurasilva.

A dimensão da ilha, a sua ruralidade e a montanha tornam o Pico um destino único para tursimo e usufruto da natureza. Surge, agora, a consagração da Vinha como património mundial que lhe vem trazer uma visibilidade nacional e internacional sem precedentes. Bem como as correlativas responsabilidades.

A verdadeira liquidação do conceito de ex-distritos que, apesar de trinta anos de democracia, ainda subsiste – embora de forma encapotada – só ocorrerá quando for criado outro real centro de decisão fora das ex-capitais de distrito. A tripolaridade, como alguns lhe chamam, só desaparecerá quando o poder deixar de ser milimetricamente distribuido por aquelas.

A abertura das novas ligações áreas directas com o exterior do Pico e de Santa Maria serão, também, um passo decisivo na descentralização do arquipélago e na consolidação de uma nova lógica de desenvolvimento regional. Um lógica assente na eliminação de assimetrias que se têm mantido por pura inércia e por força de lobis que queram a todo custo manter privilégios que já não fazem, hoje, qualquer sentido.

O próximo passo lógico será a criação de uma secretaria fora de Ponta Delgada, Angra e Horta. Os custos não serão, certamente, maiores e ter-se-á, desse modo, dado um passo verdadeiramente inovador num conceito de Região assente na realidade ilha (como de resto está na lei) e potenciador de novas abordagens do conceito de arquipélago.

Nesta linha de pensamento faz, também, todo o sentido que seja a segunda ilha do Açores em tamanho, a terceira em população e aquela que apresenta perspectivas de crescimento mais interessantes para além de S. Miguel e Terceira que venha a ser a contemplada.

Do mesmo modo que faz todo o sentido que seja a Secretaria do Ambiente a ser escolhida. Aqui encontrará a possibilidade de expressão máxima de um trabalho de proteção e valorização do ambiente e o enquadramento numa área de património natural da humanidade, moldura sem paralelo na Região.

Não se trata de uma questão de bairrismo. Trata-se de uma questão de elementar justiça e de criatividade política que só ficará bem a quem decidir dar esse passo histórico para o Pico e para os Açores.

A palavra cabe, agora, aos senhores políticos.


P E D R O D A M A S C E N O

segunda-feira, agosto 16, 2004

Os selvagens do nosso tempo

De pequenino se torce o pepino
Ditado popular



Os selvagens do nosso tempo


Bem sabemos que as questões da área da Educação são difíceis e que a sua solução será, a prazo, o passaporte para nossa viabilidade como nação. Apenas um elevado nível educacional da nossa população poderá permitir um desenvolvimento global.

O caso da Irlanda é um bom exemplo disso. De país na cauda da Europa “competindo” connosco pelos últimos lugares passou a país do pelotão da frente. Essencialmente porque apostou forte na área da Educação e das tecnologias de ponta.

Mas essas, são matérias de fundo que, tendo que ser resolvidas com brevidade, não impedem que outras – não menos importantes – mas mais simples sejam, entretanto, solucionadas. Questões que se prendem com áreas cívicas e de comportamento social.

Sendo as matérias curriculares e as estratégias de ensino problemas, inquestionavelmente, difíceis tudo levava a crer que questões de elementar comportamento cívico e social seriam simples de resolver. Mas, puro engano, a um maior nível de escolaridade parece corresponder uma crescente falta de conhecimento das mais elementares regras de cortesia e vida em comunidade.

Seja ao nível das crianças de mais tenra idade que vitimizam tudo e todos com os seus gritos estridentes e as suas correrias desordenadas em qualquer lugar público seja ao nível dos adolescentes e jovens que passaram a desconhecer que existem saudações entre as pessoas ou que poluem, indescriminadamente, o ambiente que os rodeia.

Tudo isto perante a omissão e complacência da generalidade dos pais que parecem resignar-se diante daquilo que começa a ser um fenómeno incontrolável. Pais tantas vezes com elevados níveis de escolaridade que debitam conhecimentos aos filhos sem, contudo, se preocuparem com o seu comportamento pessoal e social.

Fenómeno que, também, acontece ao nível das escolas, mesmo as do ensino básico, aonde se parece ter entrado num clima, também, de omissão por um conjunto variado de factores que vão desde problemas de disciplina até um laxismo que tem muito a ver com a atitude dos próprios pais.

Pais que, crescentemente, dedicam menos tempo aos filhos que trazem a este mundo – sabe-se lá tantas vezes porquê! – mas que, talvez por causa disso, se tornam progressivamente permissivos e, simultaneamente, reactivos ao papel disciplinador que os professores devem ter. Não educando nem deixando educar e criando nos professores uma atitude de desmobilização e desinteresse.

Sem defender um recuo para um modelo autoritário de educação e percebendo que as crianças e os jovens devem ter acesso a um pleno desenvolvimento das suas personalidades e potencialidades torna-se, contudo, imperioso que elas sejam ensinadas a respeitar limites. Limites que terão de respeitar em relação às outras pessoas, como indivíduos, e em relação à comunidade em que vivem.

Sendo que essa é uma das lições que podemos tirar da natureza. A biodiversidade, ou a diversidade de espécies, é uma das condições essenciais à manutenção do equilíbrio do nosso habitat. Sempre que uma espécie começa a crescer desmesuradamente à custa de outras que desaparecem gera-se aum desiquilíbrio que, por seu turno, põe em causa o ecosistema indispensável à vida.

As nossas crianças e os nossos jovens tem que conhecer os limites da sua própria liberdade e que são os limites da liberdade dos outros sob pena de se tornarem nos verdadeiros “selvagens” do nosso tempo. E, ainda por cima, bem mais depradadores.

P E D R O D A M A S C E N O

domingo, agosto 01, 2004

Vinha do Pico, Património Mundial e Desenvolvimento

Vinha do Pico, Património Mundial e Desenvolvimento


“A medida virá “penalizar” fortemente, em termos de desenvolvimento, o concelho da Madalena”
Presidente Camara da Madalena do Pico



A aprovação na China, por unanimidade, da Paisagem Protegida da Vinha do Pico como Património Mundial é um acontecimento de tal modo fundamental para a Ilha do Pico e para os Açores que custa a perceber porque, para além das reacções imediatas, pouco se tem dito ou escrito sobre o assunto.

A citação acima reproduzida do presidente de camara do concelho aonde se situa a parte mais importante desse vinha passará, sem dúvida, a fazer parte do anedotário político nacional pelo que representa de falta de visão de futuro. Aquele que deveria ser o primeiro a congratular-se é precisamento aquele que pretendeu matar, na praça pública, a galinha de ovos de ouro!

O reconhecimento mundial da riqueza da vinha do Pico como património vem, para além de prestar justiça ao trabalho insano dos nossos antepassados, confirmar a Ilha do Pico como um destinos incontornáveis para quem demanda os Açores em busca de de coisas que não poderá encontrar noutras paragens. Sabido que ninguém procura a Região atrás de sol e praias.

E o Pico que já contava com a notoriedade da sua montanha, da extensão da sua laurasilva (a mais bem preservada do arquipélago) e da saga baleeira passa a contar, agora, também com o reconhecimento mundial unanime da importancia de uma das suas actividades mais emblemáticas que nos deixou uma herança que poderá ser um das chaves fundamentais para o nosso desenvolvimento.

O Pico não se vai desenvolver porque - como pensa o autarca da Madalena - se vão construir muitas casas e adegas grandes ou hoteis dinossauricos, a torto e a direito. O Pico apenas se irá desenvolver na medida em que conseguir preservar a sua identidade patrimonial, seja natural ou erigida. Só, desse modo, conseguirá atrair visitantes que buscam o que ainda existe de autêntico por esse mundo fora.


Visitantes, habitualmente cultos e com posses, que não procuram os grandes hoteis (iguais a todo os outros em todo mundo) mas sim pequenas unidades integradas e turismo de habitação ou rural dando, desse modo, oportunidades de negócio para pequenos investidores locais que poderão completar outras actividades nomeadamente a agrícola.

O Pico terá que se afirmar pela diferença. Diferença que passa pela afirmação e preservação dos seus valores e actividades tradicionais. Se tentarmos imitar o que quer que seja – desde a Madeira ao Algarve ou mesmo a S. Miguel – estaremos irremediavelmente perdidos porque faremos sempre imitações mais baratas. A nossa força reside, precisamente, na nossa diferença.

E se o nosso desenvolvimento passa pelo turismo é preciso discernir qual o tipo de turismo. Que não será o turismo de grande unidades hoteleiras que apenas interessam a grandes grupos económicos ou a especuladores imobiliários mas o turismo de muitas coisas pequenas e boas sejam na área do alojamento, da restauração, do comércio ou da animação.

O turismo que interessa à Ilha é aquele que possa dar uma oportunidade ao maior número possível de pessoas que cá vivem e precisam de complementar os seus proventos familiares. Um turismo de face humana e personalizado que mobilize as populações locais e ajude a manter a autenticidade da nossa terra, único trunfo com que podemos contar.

A Paisagem Protegida da Vinha do Pico é, por tudo isso, uma grande oportunidade histórica de desenvolvimento.




P E D R O D A M A S C E N O