F A C E O C U
L T A
A curiosidade matou o gato
Ditado anglo-saxónico
CURIOSITY
Curiosidade, assim se chama o robot espacial
que aterrou em Marte na madrugada de segunda-feira passada e originou nos
Estados Unidos muitas e variadas manifestações de euforia que contagiaram o
próprio Presidente.
Saudada com um
facto histórico da ciência e tecnologia a nova missão espacial americana
propõe-se desvendar os mistérios daquela planeta, nomeadamente, a existência de
vida.
Projecto de
custos astronómicos – 2,5 mil milhões de dólares - e que chegou ao destino após
uma viagem de 570 milhões de quilómetros que iniciou em Novembro de 2011.
Uma epopeia
notável.
Contudo nós,
aqui em baixo, continuamos a enfrentar problemas de fome e miséria profundas que
afectam milhões de seres humanos. O que, sem cair em demagogias, não deixa de
ser muito perturbante.
É estranho ver
tantos recursos – humanos, científicos e pecuniários – serem afectados a
objectivos que, ainda que importantes, se desviam muito daquilo que deviam ser
as nossas preocupações prioritárias: a saúde do nosso próprio planeta e o
conforto mínimo para os milhões de pessoas que vivem do quase nada.
Tudo isto no
Ano da Graça de 2012, em plena crise que varre a Europa e os próprios Estados
Unidos e no rescaldo do falhanço da Conferência Rio + 20 durante a qual, mais
uma vez, não foi possível obter consensos ambientais convincentes.
Nada a opor ao
avanço do conhecimento humano que nos venha dotar de ferramentas que tornem as
nossas vidas mais longas, mais prósperas e mais felizes. Mas de pouco vale
sonhar com a lua se nem a nossa própria casa conseguimos endireitar.
É irónico que,
ao mesmo tempo que um robot chega a Marte e o desemprego atinge em Portugal
níveis alarmantes, ainda seja possível obter nos Açores baixas fraudulentas
para servirem fins inconfessáveis de quem se dá ao luxo de brincar com postos
de trabalho.
Como é
lamentável que enquanto o robot Curiosity seguia para um planeta distante se
tenham sucedido graves assassínios em massa na América ou tenham sido
executadas milhares de pessoas às mãos de um regime déspota na Síria.
Dir-me-ão que uma
coisa não tem nada a ver com a outra. Mas, infelizmente, tem. Não vale a pena
tentar correr quando ainda não somos capazes de gatinhar. Não e possível
separar o que é inseparável.
Temos hoje
tecnologia e recursos para tornar o Planeta Terra numa casa confortável com pão
e saúde para todos. Uma “utopia” que não passa disso mesmo apenas porque ainda a
tal não nos propusemos.
Oxalá que,
desta vez, a Curiosidade não ajude a matar o gato.
P E D R O D A M A S C E N O
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