sexta-feira, julho 27, 2012

Cultura, Títulos e Rock'n'rol


F A C E    O C U L T A


O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar.

Fernando Pessoa


Cultura, Títulos e Rock'n'rol



            Portugal, sobretudo depois da expulsão dos judeus e da perseguição aos jesuítas, nunca primou pelas suas elites culturais. E o que delas restava foi “primorosamente” espezinhado pelo Estado Novo.

 Ficaram uns quantos resistentes que acabaram levados pela enxurrada da “cultura de massas” e de quem se vêm, por vezes, alguns afloramentos. Mas que, geralmente, acabam perdidos num mar de lugares comuns e mediocridade.
           
As recentes polémicas sobre títulos académicos “turbojet” nada mais são do que a outra face da mesma moeda. Mesmo um cursinho tirado de fio-a-pavio não dá qualquer garantia, nem de qualidade técnica nem de valia cultural.

A inflação de “drs” em Portugal está associada à baixa de qualidade do ensino universitário e à proliferação de universidades e cursos. Tendo a louvável e progressista iniciativa de democratizar o ensino e dar iguais oportunidades a todos, aberto as portas a negócios de quase vão de escada.

Só assim se percebe a confrangedora mediocridade de fornadas de licenciados que, em muitos casos, mal sabem falar e escrever. Situação bem mais grave daquela em que ocasionais chico-espertos souberam aproveitar as debilidades do sistema e que, em alguns casos, estão mais preparados que os licenciados de carreira.

A universidade devia ser, antes de mais, uma escola para gerar gente de bitola intelectual e cultural superior, susceptível de acompanhar, pela vida fora, o ritmo alucinante do conhecimento e dos progressos técnicos. Talvez por isso mesmo ainda se chame ensino superior.

Não de drs para pôr em cheque ou em cartão-de-visita. Não de gente que foi convencida que o que era importante era ter um canudo e para quem essa palavra estranha - resiliência - era evitável com o recurso a um atalho proporcionado por uma universidade privada.

E com a enxurrada da cultura de massas vieram os Códigos da Vinci e agora o fenómeno Grey com as “As cinquenta Sombras de Grey”, livros para ler na praia e que constituem exemplos inquestionáveis da cultura instalada.
Bem pode o pobre José Luís Peixoto matar-se a escrever “Abraço’s” e outros livros que tais em que pondera o tempo, a reflexão e a sabedoria e em que a lucidez se torna milagre. Nunca poderá destronar uma porno-xaxada mal escrita mas que activa as feromonas das donas de casa.

Cultura e universidade deveriam andar, de mãos juntas. Não cultura no sentido bafiento e chato do salazarismo mas cultura no sentido mais universalista e polivalente e que as actuais facilidades digitais e da net permitem.

Tempo da música continuar a ser música sem perder, contudo, a contemporaneidade e a modernidade e da arte pode vingar sem se tornar no bezerro de plástico de qualquer governo mas antes modelando o talento aos novos desafios da vida e às grandes questões do tempo presente.

Estamos na época em que a cultura e arte abriram mão do seu papel de intérpretes e fieis depositários das nossas inquietações e da nossa sabedoria para se tornarem em produtos de prateleira de supermercado, ao lado dos detergentes e do papel higiénico.

Não admira, pois, que o ensino e os canudos andem pelas ruas da amargura. Entraram em saldo e de lá não sairão enquanto a inaptocracia (o sistema dos inaptos) continuar a ganhar raízes e arremedar-se de regime democrático e não prevalecerem os princípios do mérito e da competência.



P E D R O     D A M A S C E N O
           
           
           


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