FACE OCULTA
NOVO
ANO, NOVA VIDA?
As lanchas do Pico iniciaram o
horário de Inverno, o que significa retroceder algumas décadas no tempo. Porque
o tradicional horário de Inverno é isso mesmo – um retrocesso no tempo.
Só quem está completamente desfasado
no tempo e alheado das novas (?) realidades que se vivem neste conjunto de
ilhas e no mundo em geral poderá continuar a manter, ano após ano, um horário
que servia bem há 30 ou 40 anos.
Basta atentar no aumento exponencial
de passageiros que cruzam o canal e no aumento, também exponencial, do parque
automóvel do Pico para se perceber que a realidade do canal mudou
substancialmente e vai continuar a mudar. Nem a operação da TAP no aeroporto da
Horta que naturalmente também tem – em pé de igualdade – o Pico como destino
conseguiu fazer luz nalguns espíritos.
São as pessoas – que deveriam ser os
destinatários privilegiados da filosofia dos horários das lanchas do canal –
que tem que se condicionar as suas vidas ais horários e não o contrário.
Ou seja, são os utentes do aeroporto
da Horta com destino ou origem no Pico, os picoenses que são obrigados a
recorrer ao Hospital da Horta ou a um conjunto de serviços que não existem no
Pico (desde o Centro de Emprego à Inspecção de Trabalho) que têm que andar a
“dançar” em função de horários desajustados e desarticulados e que não têm
qualquer lógica para os tempos que correm. Para não falar de outras áreas que
têm vindo a adquirir peso crescente como é o caso do turismo que toda a gente
pretende que seja cada vez menos sazonal mas que na prática é considerado
sector não existente no Inverno.
Por tudo isso não cabe na cabeça de
ninguém – nem do diabo – que durante largos meses do ano a última lancha do
Faial para o Pico deixe a Horta às 16 horas! Não se percebe que um serviço
público passe a condicionar, de forma muito gravosa e por razões
incompreensíveis para o comum dos mortais, o bem estar e os interesses dos
cidadãos e da comunidade durante a maior parte do ano.
Possivelmente durante alguns meses
de inverno, não todos, três lanchas por dia continuam a ser suficientes. Mas é
fundamental que os seus horários estejam de acordo com as necessidades e
exigências de dealbar do ano 2000. E isso significa que deverá manter-se numa
lancha matinal, de início de dia, uma a meio dia e, finalmente última que
deverá uma lancha de fim de dia (o que deverá significar a saída da Hora entre
as 17 e as 17H30) e que permita que as pessoas de ambos os lados do canal organizem
e concretizem a sua vida de uma forma normal.
Seria interessante saber quantas
pernoitas e refeições na Horta para além de todos os outros incómodos, já
tiveram os picoenses ao longo destes últimos 20 anos. Os horários das lanchas
do canal não podem continuar a ser elaborados apenas de acordo com os
interesses do Faial ou da imprensa concessionária. Como serviço público terão
que ter, também, em linha de conta os interesses e as necessidades (algumas
delas inevitáveis) dos picoenses.
Os actuais horários de inverno não
servem, objectivamente, os interesses do Pico por muitas desculpas (das quais
uma das mais interessante é a questão das viagens de noite) que se arranjem.
Seria, mesmo, interessante ouvir as câmaras picoenses e o próprio governo a pronunciarem-se
sobre o assunto que toda a gente percebe e sente que está mal mas que continua
a perpetuar-se, impunemente.
Da mesma forma que os horários da
SATA não podem ser feitos apenas com base nos interesses de São Miguel, os
horários da Transmaçor não podem ser feitos apenas a pensar no Faial ou nos
interesses daquela empresa.
A alteração do horário da lancha da
manhã aos domingos que se verificou este ano foi um facto positivo que se
sublinha e que correspondeu á lógica de um serviço que deve ter interesse dos
utentes na primeira linha das suas preocupações. Resta, agora, saber se essa
alteração correspondeu, apenas, a um facto isolado ou se teve como causa uma
nova atitude.
Curiosamente as alterações de clima
tendo vindo, mesmo, a esbater as diferenças entre estações a ponto de não se
poder falar já nestas como marcos objectivos mas apenas como referências
históricas e culturais. Já ninguém sabe quando começa o inverno ou acaba o
verão.
O novo “ano marítimo” aí será. Seria
excelente que fosse ele a inaugurar a nova era das comunicações no canal
trazendo para estas paragens um pouco de bom senso e criatividade.
Novo ano, nova vida?
P
E D R O DA M A S C E N O
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