FACE
OCULTA
CAVACO POR UM
CANUDO?
Extintos os
últimos clamores das legislativas, que tiveram um desfecho exemplarmente claro,
já se começam a aquece os motores para as presidenciais.
E é assim que
vem um PSD, ainda a camber as feridas da derrota eleitoral, solicitar, nalguns
casos pateticamente a candidatura presidencial de Cavaco Silva. Em termos e com
veemência que chama a atenção de qualquer observador menos atento.
E os termos são
efectivamente muito peculiares: o ex-partido maioritário, protagonista quase
único da vida política nacional dos últimos dez anos, vem no rescaldo da
derrota propôs o seu líder e ainda primeiro-ministro como defensor ideal do equilíbrio
das instituições e árbitro privilegiado!
Ou seja, o homem
que marcou o estilo e o conteúdo da governação de Portugal durante uma década e
que foi, por isso mesmo, o principal responsável pela derrota do seu partido
(Fernando Nogueira apenas desempenhou o papel de duplo: levou a porrada que era
para o outro) seria, na óptica do PSD, o político ideal para garantir, agora, a
estabilidade da vida política nacional que passou a ter como protagonista
principal exactamente o partido que lhe infligiu essa derrota!
Situação que
torna o apelo de altos dirigentes social-democratas à candidatura do Prof.
Cavaco Silva em puro surrealismo político. Surrealismo que só pode encontrar
explicação na ansiedade que esses dirigentes colocam na procura de um salvar de
face para um partido que, de repente, passou do tudo para um papel secundário.
Possivelmente o próprio PP poderá vir a ter um papel mais relevante na nova
legislatura.
Independentemente
dos méritos (e tem muitos) e deméritos que o Prof. Cavaco tenha, ele é, talvez,
o político menos bem habilitado – neste momento – para assegurar a estabilidade
que, efectivamente, Portugal necessita nos próximos quatro anos. Pela
circunstância muito simples mas fatal de terem sido ele e as suas políticas os
grandes derrotados das eleições legislativas.
O eventual
sucesso do Governo do Partido Socialista será, sempre, a confirmação da justeza
da derrota do Partido Social Democrata e de Cavaco Silva. Apenas um mau governo
e uma má governação do PS serve, objectivamente, os interesses dos derrotados.
O que torna o
ainda primeiro-ministro em parte altamente interessada num desfecho dos
próximos anos de governo socialista e, consequentemente, falho da isenção
indispensável ao exercício do cargo de presidente da república. O único
objectivo que a sua eleição poderia servir seria, apenas um salvar de face para
um partido e para um homem que já não estavam habitados a perder.
Quando Cavaco
Silva abandonou a liderança do partido da forma como fez, sabia muito bem o que
estava a fazer. Quando manteve um silêncio tumular sobre a sua candidatura a
Belém, também sabia muito bem e que estava a fazer. Deixou um partido e um país
suspenso de desígnios cujos contornos possivelmente só ele próprio conhece e
que são, por isso mesmo, essencialmente individuais.
Se Cavaco Silva
não se candidatar às próximas eleições presidenciais vai deixar, certamente, em
pânico largos sectores do seu partido mas ficará posicionado para o poder vir a
fazer em circunstâncias mais favoráveis no futuro. Se o fizer agora, apenas
virá provar que a sua saída da liderança do partido não foi um acto de desapego
ao poder mas somente uma maneira habilidosa de fugir com “o rabo à seringa” de
uma derrota humilhante que ele temia para logo a seguir tentar apanhar o
primeiro comboio de poder. Circunstância que lhe poderá valer outra valente
derrota e ao PSD.
Poderá argumentar-se,
com o mesmo tipo de lógica, que a candidatura de Jorge Sampaio está também
inquinada de falha de isenção tendo em conta a actual maioria socialista. Embora
as circunstâncias sejam, substancialmente, diferentes (a candidatura surgiu
bastante antes das legislativas), essa possibilidade existe e será, com
certeza, juntamente com o perfil dos restantes candidatos, uma das várias
questões que deverão vir a pesar na decisão final dos eleitores.
Mas uma coisa é
certa: Cavaco Silva é, neste momento, o político que menos condições
subjectivas e objectivas tem para assegurar a estabilidade em Portugal – tudo
está demasiado próximo e quente para que ele possa assegurar as indispensáveis
qualidades de serenidade e isenção para o exercício da mais alta magistratura
do estado.
Cenário que
poderá se bem diferente daqui a cinco anos.
P
E D R O DA M A S C E N O
Sem comentários:
Enviar um comentário