quarta-feira, novembro 15, 1995

Uma Secretaria Regional no Pico

FACE OCULTA

À CONSIDERAÇÃO DO/A PRÓXIMO/A PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL

UMA SECRETARIA REGIONAL NO PICO


É um dado adquirido e pacífico que o Turismo é o sector que, nos Açores, poderá desempenha um papel estruturante decisivo na economia e constituir a grande vocação de uma região de parcos recursos. Sendo que o grande trunfo que o arquipélago tem para fazer face a uma feroz concorrência internacional, e mesmo nacional, na área do turismo são os nossos excepcionais recursos naturais.

O destino Açores é, face ao preço dos transportes, um destino, necessariamente, caro mas não, necessariamente, condenado a sucumbir às inexoráveis leis do mercado. Para tanto bastará que o sector ofereça atractivos específicos e exclusivos. E de todos eles avulta, sem dúvida, a natureza e o ambiente.

Os Açores são ao nível da Europa uma autêntica reserva natural com níveis de usufruto, tranquilidade e segurança muito elevados e com índices de poluição muito baixos. Factores que aliados a uma boa retaguarda hoteleira e de animação poderão tornar o arquipélago num caso sério de turismo de qualidade.

Contudo, a preservação da nossa natureza/ambiente está longe de ser apenas uma questão do foro do turismo. Bem pelo contrário. A saúde e a qualidade de vida estão lhe, indissociavelmente, ligadas. O grande mal da modernidade – o stress – está, em primeira linha, ligado à quebra de um relacionamento do homem para com o seu habitat natural.

O stress conhecer o seu início nas servas de betão e poluição que são as grandes cidades. E, como uma nódoa, tem vindo a alargar-se inexoravelmente ao campo e à periferia, mercê da ânsia imparável do crescimento económico cego e depredador. Em poucas décadas o homem sofreu alterações do seu habitat natural extremamente severas e que nos conduzem a doenças perfeitamente evitáveis.

Circunstâncias que levaram ao surgimento dos movimentos ecologistas europeus que continuam em franco crescimento e que vieram influenciar decisivamente os partidos clássicos que se viram na contingência de perder o comboio. E nenhum político que se preze deixa de incluir, hoje, no seu discurso, o tema da ecologia.

Infelizmente em muitas regiões do mundo, incluindo a Europa, não será fácil corrigir os muitos e graves erros cometidos. Noutras, como a nossa, a situação é bem diferente sobretudo por causa do atraso no desenvolvimento económico – neste aspecto providencial. Circunstância que nos permitirá aprender com os erros dos outros e, se formos capazes, de desenvolver sem poluir ou agredir a natureza.

Razões mais do que suficientes para que o Ambiente deixe de ser apenas uma direcção regional integrada numa secretaria que, embora se designe do turismo e ambiente, é muito mais daquele do que deste. E para além disso o ambiente, embora deva estar sempre na mente de quem quiser desenvolver a sério o sector do turismo nos Açores, é muito mais do que isso. É condição “sine qua non” para a nossa saúde e, sobretudo, para a nossa qualidade de vida.

E não há desenvolvimento económico que valha a pena se puser em causa a nossa saúde, a nossa qualidade de vida – únicas razões, aliás, porque valerá a pena desenvolver. O consumo só pelo consumo é uma perspectiva que apenas poderá conduzir à exaustação cega dos nossos recursos naturais e à doença. Quantas inutilidades compramos todos os dias que apenas nos vêm complicar a vida?


Senhor/a futuro/a Presidente do Governo dos Açores


Sobram, assim, argumentos para que V. Exª. crie no seu governo, saído das próximas eleições regionais, a Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais. Secretaria da maior importância para a preservação e defesa daquilo que é nosso maior património e que deverá deixar de estar debaixo da alçada dos sectores económicos mas que, bem pelo contrário, os deverá vir a condicionar.

Para isso será necessária coragem política e uma boa dose de lucidez intelectual. Mas não tenha V. Exª. duvidas que de si rezará a história.

Sem pretender entrar em polémicas antecipadas mas dado que esse departamento governamental terá que existir fisicamente algures, porque não no Pico? Porque não sediar na Ilha do Futuro uma Secretaria do Futuro?

Não está escrito em parte nenhuma e por conseguinte não tem força de lei que as sedes de todos os departamentos governamentais se tenham que se situar sempre em Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta. A autonomia já amadureceu o suficiente para que os delicados arranjos políticos da sua arrancada tenham de se manter imutáveis.

Que ilha melhor que o Pico, na sua majestade rural e na sua diversificada natureza, poderá dar acolhimento a um departamento cujo objectivo primordial deverá ser justamente a defesa de todos esses valores que ela tão bem representa?



P E D R O  DA M A S C E N O

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