FACE OCULTA
OPORTUNISMO OU SURREALISMO POLÍTICO?
Quando, calmamente, os partidos
aqueciam os motores para a disputa de Outubro para a Assembleia Regional e tudo
parecia no seu lugar (Mota Amaral e PSD de um lado, Martins Goulart e PS do
outro) estoura a novidade política (?) do ano: afinal de contas o PS muda de
ideias e parece decidido a apresentar Mário Machado como adversário de Mota
Amaral.
Num ápice o Partido Socialista manda
às malvas as sua liderança e a sua estratégia, decididas em congresso, e decide
optar por uma coligação pré-eleitoral com o CDS e por uma candidato a
Presidente do Governo estranho ao partido!...
Assim mesmo.
De repente o Eng. Martins Goulart
passa de líder regional do PS e de candidato, como é lógico e sempre foi
afirmado, a Presidente do Governo Regional para o limbo, Para tanto terá
bastado uma sondagem efectuada em S. Miguel e que parece ter demonstrado um
melhor perfil eleitoral para Mário Machado, actual presidente da Câmara de
Ponta Delgada.
Situação que é, no mínimo,
estapafúrdia e surrealista.
Um partido com grandes
responsabilidades na vida politica regional passa, na maior das calmas, um
estatuto de parvo ao seu líder e de verbo encher ao seu congresso regional. Que
se danem as pessoas e os princípios: o que importa é ganhar.
O partido Socialista que, ao longo
destes anos de autonomia, sempre se afirmou como uma alternativa ao PSD, quer a
nível de projecto político quer de pessoas, vem ao fim e ao cabo, confirmar
aquilo que já muita gente pensava: que os partidos e os políticos são todos
parecidos e o que querem é poder.
Só assim se percebe que alguma vez o
PS possa sequer ter encarado semelhante hipótese a sério. Só assim faz sentido
que um partido com as suas responsabilidades se tenha deixado segar pela
obsessão de derrubar Mota Amaral.
Porque não é indiferente a forma
como se chega ao poder. E essa sempre foi uma das bandeiras do PS.
Que autoridade passará a ter o PS,
agora, para acusar o PSD de se querer manter no poder de qualquer modo quando,
ele próprio, quer lá chegar a qualquer preço.
Situação que configura, mesmo,
logro.
E em política o que parece é.
E mais. Suponhamos que a coligação
ganha e que Mário Machado se torna Presidente do Governo Regional. Que vai
acontecer então? Vai ele inscrever-se no PS e disputar a liderança do partido
ou vai este passar a ter uma chefia bicéfala: Martins Goulart para constar e
Mário Machado para mandar? Na primeira hipótese estar-se-á perante um claro
oportunismo, na segunda perante puro surrealismo político.
Na política como na vida tem que
haver uma componente ética sob pena de tudo se reduzir a competição desenfreada
e implacável. Embora esteja sobejamente provado que a competição é a grande
mola da vida – desde o nível pessoal ao social – não pode permitir que ela se
transforme em objectivo último e único.
Ainda que seja verdade que a recta
final do século vinte tenha trazido consigo perspectivas mais pragmáticas em
detrimento das ideologias, não se pode fazer tábua rasa dos princípios bob pena
de se dar origem a perversidades sociais graves como é o caso do «fenómeno» Le
Pen em França ou dos neo-nazis na Alemanha.
Essas perversidades surgiram e,
possivelmente, agravar-se-ão, em grande parte, devido à competição selvagem e
amoral que ganha raízes na sociedade moderna. Situação que frequentemente leva
ao saudosismo simplório de autoritarismo como forma de repor a ordem e a
justiça num sistema que se mostra demasiado vulnerável à corrupção e ao
oportunismo.
O Partido Socialista se vier a
confirmar a troca da sua posição ideológica e ética por um prato de lentilhas
estará a contribuir, também e fortemente, para a descrença e a apatia que
grassam na sociedade açoriana e o mesmo é dizer para a descaracterização e
abandalhamento do regime democrático e autonómico.
Oportunismo ou surrealismo político?
P
E D R O D A M A S C E N O
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