FACE OCULTA
A «GUERRA» DOS PAPOS-SECOS
Por incrível que pareça, o Pico está
privado, há meses, de um bem de consumo de 1ª linha: o papo-seco.
Um diferendo sobre o preço de venda
ao público entre as padarias e o governo terá levado aquelas a deixarem, pura e
simplesmente de fabricar o papo-seco. E pronto, sem apelo nem agravo, as
pessoas que se virem e passem a comer outro tipo de pão!...
Os dias e meses passam e nada.
Enquanto nas outras ilhas (para não
ir mais longe no próprio Faial) se continua a consumir o papo-seco, no Pico
não. Porque as, pelos vistos, todo soberanas padarias decidiram que não estavam
dispostas a fabricar o produto a não ser pelo prelo que entenderam ser o melhor
que os convinha!
Perante a total passividade do
governo, dos deputados, das autarquias e do próprio público em geral uma
situação caricaturalmente anómala mantém-se. Numa parcela da Comunidade
Europeia e numa ilha com pretensões a conquistar um espaço no difícil segmento
alto do mercado europeu.
Abrenúncio!
Imagine-se apenas o ridículo de um
turista solicitar um papo-seco num restaurante e responderem-lhe que não há,
que as padarias decidiram não o fabricar e que o governo não se importa. Um
verdadeiro «farwest» de mercado, sem regras nem fiscalização.
Será que se perdeu por completo o
senso critico?
Imaginemos, por redução ao absurdo,
que esta lógica de mercado se estende a outros sectores. Poderemos ter, por
exemplo, os pescadores a venderem apenas cherne ou goraz porque lhes dá mais lucro,
os talhantes a venderem apenas carne com osso e cortada a direito porque rende
mais e dá menos «chatices», as farmácias a deixarem de vender os produtos com
pequena margem de comercialização, os comerciantes a deixarem de vender farinha
e açúcar a retalho porque não dá nada, etc., etc..
Naturalmente que a indústria de
panificação tem, como qualquer outro parceiro social, direito a defender os
seus pontos de vista e lutar pelos seus interesses. O que não se percebe é como
podem, imponentemente, retirar do mercado produtos de consumo diário e
generalizado como é o papo-seco.
Faria sentido que fizessem uma suspensão
simbólica do fabrico para marcarem uma posição. É abusivo e inteiramente
absurdo que decidam, pura e simplesmente, deixar de fabricar um produto por
tempo indeterminado. Ou será que a indústria da panificação não está regulamentada
e que, se calhar, qualquer dia só podem comprar pães de cinco quilos que dão
mais lucros e menos «Chatices» para os padeiros!
Que actue quem tem que actuar.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de
defender os interesses dos consumidores que não podem, num estado de direito e
democrático, estar apenas dependentes dos interesses, mesmo que parcialmente
legítimos, de qualquer indústria, seja ela de panificação ou outra.
Se assim não acontecer estaremos,
mesmo, perante uma autêntica «guerra» dos papos-secos numa atlântica e europeia
república das bananas.
P
E D R O D A M A S C E N O
Sem comentários:
Enviar um comentário