FACE OCULTA
A
SELVA DO TRÂNSITO
O problema do trânsito rodoviário no Pico está, cada dia que
passa, a consolidar-se como uma praga.
Não fugindo ao que se passa a nível nacional, o trânsito nesta
Ilha é uma questão muito preocupante tal o nível de sinistralidade que está a
atingir. Sinistralidade que ultrapassou os pequenos acidentes, do farol partido
ou do pára-choques amolgado, para atingir elevados prejuízos materiais e, o que
é bem mais trágico, irreparáveis danos pessoais com uma frequência inusitada.
Situação a merecer reflexão serena. Problema complexo que
envolver múltiplos factores. Questão que não pode ser abordada de forma
simplista procurando apenas bodes expiatórios.
Nos últimos dez anos o parque automóvel do Pico conheceu um aumento
em flecha. Também durante este período foi muito elevado o número de pessoas
que tiraram carta. Factores que conjugados criaram, só por si, uma grande
alteração no trânsito picoense: Muitos mais carros e muitos mais novos
condutores necessariamente inexperientes.
Crescimentos que não foram acompanhados por equivalentes
melhorias na rede viária. Esta não só não cresceu como não foi objecto de
indispensáveis melhoramentos e, o que ainda é bem pior, não foi sequer
submetida a adequada manutenção.
São do conhecimento de todos as variadíssimas situações de
grande perigo com que os automobilistas se defrontam em estradas inadequadas,
mal sinalizadas e sem protecções. Todos conhecem a verdadeira tortura e
aventura que constitui a travessia da grande maioria dos aglomerados urbanos.
Mas, se todos os factores já mencionados são importantes, há um
outro que é crucial par o entendimento cabal deste problema: os condutores.
São, na generalidade, maus. Não só porque fizeram e fazem a sua aprendizagem de
modo deficiente numa rede viária muito escassa mas porque também não são,
habitualmente, sujeitos a qualquer vigilância significativa. Têm pouca perícia
e não respeitam, minimamente, nem as regras do Código de Estrada nem
elementares regras de civismo.
Quem não depara todos os dias com as situações mais bizarras?
São um longo rosário: estacionamentos em curvas e outros locais de nula
visibilidade e mesmo nas faixas de rodagem impedindo o fluxo normal do tráfego;
entradas de marcha atrás nas vias principais, desrespeito total pelas
prioridades; ausência de luzes e piscas sobretudo em tractores e veículos
pesados; excessos de velocidade e fora de mão; pneus carecas e falta de
travões; condução no nevoeiro sem luzes; condutores sem carta; condução em
estado de embriaguez, etc. etc.
Claro que, teoricamente, cidadãos maiores deveriam ser
responsáveis e respeitadores das regras porque, ao fim e ao cabo, todos são
vítimas potenciais. Mas a verdade é que o não são e por isso, muitas vezes, os
justos pagam pelos pecadores.
E aqui urge o último, mas
não menos importante, factor: a vigilância – polícia. Que, em termos práticos,
não existe no Pico. Para já não existe polícia de trânsito o que é um
verdadeiro absurdo. E depois a P.S.P. refugia-se atrás de desculpas esfarrapadas,
como é o caso de falta de pessoal, para não exercer cabalmente a sua missão.
São terras pequenas, todos se conhecem, blá, blá!
Ninguém leva a polícia a sério e a polícia não leva a sério a
grande fatia de responsabilidade que lhe cabe neste estado de coisas. A P.S.P.
tem, certamente, muitas limitações de que não é directamente responsável e os
polícias estão de longe de serem os únicos maus da fita. Mas que o seu trabalho
deixa muito a desejar em matéria de fiscalização das infracções e de prevenção
de acidentes é um facto indiscutível.
Há portanto um grande número de causas que explicam o estado
muito preocupante do trânsito no Pico. Toda a gente protesta mas ninguém faz
nada. Todos se acomodam com a esperança secreta de que os acidentes só
acontecem aos outros.
Mas de facto há muito a fazer: mais e melhores estradas
devidamente sinalizadas e protegidas; criação de locais de estacionamento ao
longo das estradas e de parques nas povoações; ensino na condução mais cuidado
e envolvendo ensino de condução mais exigentes com prova de estrada; adopção
por parte dos condutores de uma atitude responsável, respeitando o código, não
criando situações de perigo, não conduzindo embriagados; lançamento de
campanhas para uma condução prudente; adequado policiamento não só com carácter
penalizador mas também com atitudes de aconselhamento e esclarecimento; etc.;
etc..
Se assim não for continuaremos a ter um trânsito que é uma
autêntica selva.
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