FACE OCULTA
O COMBATE É DE TODOS
É questão pacífica e incontroversa que a Educação é uma área de
crucial importância. Dela depende a maturidade e o progresso dos povos. Todos
os discursos políticos, oficiais ou partidários, hipócritas ou não, lhe
atribuem a maior prioridade.
E pode ser mesmo uma máquina de trucidar ministros, como ainda
recentemente vimos. Tal o seu peso na sociedade e tantos os sectores com que
mexe.
Mas a Escola, centro de educação por excelência, está longe de
constituir, entre nós, um centro de formação global. Entendendo-se por isso uma
área de aprendizagem e de convívio com objectivos de formação cívica, técnica,
intelectual e cultural.
A escola é sobretudo uma zona de transmissão de conhecimentos,
de forma mais ou menos passiva e mais ou menos competente. Pouco vai para além
disso.
E se atendermos a que as Escolas Preparatórias têm alunos entre
os 10 e os 28 anos, senão mais, o assunto assume outras proporções. Trata-se de
um período de vida determinante na formação do indivíduo.
Ora o Pico, como o restante país rural, ainda tem uma grande
percentagem de pais semi-analfabetos. Pais que não estão em condições de
acompanhar o desafio da educação escolar e geral dos filhos. No espaço de uma
geração criaram-se fossos de índole cultural, intransponíveis, entre pais e
filhos.
Quase de repente, graças ao 25 de Abril, Portugal avança para a
democratização do ensino que deixa de ser privilégio de alguns para ser um
direito de todos. Mas essa soberba conquista trouxe no seu seio dificuldades de
toda a ordem para um país pobre e periférico: de instalações, de professores,
de programas, de baixo nível cultural da população, etc.
No entanto, quase 18 anos são passados e, não esquecendo as
muitas facetas positivas e os muitos esforços despendidos, a Escola ainda está
longe de se ter constituído em trave mestra, como devia, da democracia. A
Escola ainda não consegue ser o grande artífice do combate às desigualdades, já
que ao nível da formação dos alunos não consegue suprimir os grandes défices
(higiénicos, cívicos, intelectuais e culturais) de que a maioria deles é
portadora.
E é, justamente, na superação destes grandes défices que deveria
ser posto o acento tónico. Doutro modo os alunos, independentemente das
capacidades individuais, estarão, também longe de serem iguais quando saem da
Escola. A igualdade só será resposta quando a Escola for capaz de dar uma
resposta integral às assimetrias económicas e culturais que herdamos da
ditadura.
E neste combate temos que intervir: Estado, professores, pais, alunos
e comunidade em geral. Não pode haver passividade de quem quer que seja e muito
menos de quem, comodamente, se habituou a ver no Estado um protector omnipotente.
O combate é de todos.
P E D R O
D A M A S C E N O
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