FACE OCULTA
DEMISSÃO INSÓLITA
O peso que o deputado Borges de
Carvalho deteve, desde sempre, no aparelho do PSD e a sua súbita e isolada
demissão justificam uma análise detalhada.
Com efeito, Borges de Carvalho além
de líder do grupo parlamentar sempre desempenhou papel de relevo na defesa dos
pontos de vista do seu partido no parlamento. Como sempre, foi um elemento
chave no aparelho partidário na ilha Terceira. Funcionalidade que lhe
proporcionou largas benesses governamentais tais como a generosa fatia de
avenças jurídicas de várias secretarias e departamentos governamentais. Facto
não despiciendo já que lhe terá dado acesso, ao longo dos anos das vacas gordas
da autonomia, a significativos proveitos.
Não se trata portanto, da demissão
isolada de um qualquer militante do partido governamental. Trata-se da demissão
de um elemento chave do PSD/TERCEIRA e um companheiro de estrada, durante
muitos anos, de Mota Amaral.
Mas não só. Trata-se também da
demissão de um membro do grupo da Terceira que, a determinada altura, começou a
contestar a lideranças de João Bosco e que nas últimas eleições para os órgãos
da ilha do partido tomou conta da chefia do aparelho. Parceiro de Joaquim Ponte
e Fátima Oliveira, que desempenham funções do mais alto relevo na direcção
terceirense do partido.
Borges de Carvalho sempre se
posicionou como um homem influente do partido, uma das faces públicas do
projecto autonomista social-democrata. Jamais foi um elemento marginal, foi
sempre um aguerrido parlamentar.
É, portanto, neste contexto que deve
ser analisada a sua demissão. Uma demissão isolada, sobretudo em relação aos
restantes membros da linha contestaria terceirense e ao próprio Álvaro Dâmaso.
Para já todos continuam no partido.
Situação perfeitamente entendível se
Borges de Carvalho tivesse justificado a sua demissão com argumentos de ordem
pessoal. Mas os argumentos invocados foram políticos e, o que é bem mais grave,
levantaram a suspeição do espectro separatista ao PSD. Acresce que insinuação
tão grave não mereceu qualquer repúdio formal do partido e que o autor tem
obrigação de conhecer profundamente os cantos à casa.
De modo que se faz correr aquele
deputado não é mero despeito de quem foi desalojado de gordos privilégios ou o
desamor de quem já tem a barriga cheia, então o assunto é grave. Trata-se de
uma acusação séria que tem que ser devidamente fundamentada pelo seu autor e
que tem que merecer uma tomada de posição muito clara por parte dos responsáveis
máximos do PSD.
Então sempre será verdade que a
autonomia do PSD é apenas um degrau na caminhada separatista? Se sim porque
razão apenas agora, que o assunto parecia estar moribundo, se lembrou Borges de
Carvalho de o trazer a colação? Que aconteceu aos outros membros do grupo
contestário terceirense que se remeteram ao mais profundo silêncio?
Nesta questão há, efectivamente,
várias contradições que convém esclarecer.
Borges de Carvalho, apenas um homem
isolado e ressentido ou um homem de barriga cheia que tenta dar uma coloração
política a um acto de abandono? Ou então Borges de Carvalho um homem de
coragem, a ponta de um iceberg de proporções descomunais versus um PSD
agonizante que já nem reagir consegue?
Uma demissão que, em qualquer das
possíveis versões, não é inocente nem acidental. Uma demissão que não pode ser
ignorada nem tratada como um mero fait-divers da política regional.
PEDRO DAMASCENO
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