segunda-feira, março 30, 1992

QUO VADIS PSD?


FACE OCULTA


QUO VADIS PSD?



Após a apresentação pública da AD - Açores/versão Borges de Carvalho e o PS – Rosa/Mário Machado ficamos a aguardar aquilo que já se sabe: a candidatura formal de Mota Amaral.

Ficará assim, definitivamente, provado que nem o CDS nem o PS conseguiram arranjar, entre os seus militantes e dirigentes, alguém que se candidatasse ao cargo de Presidente do Governo Regional. Apenas o PS conseguiu.

Força ou fraqueza? Eis a questão.

Será que o PSD é o único partido que, na Região, consegue encontrar no seu seio um dirigente à altura de ser Presidente do Governo ou será que se instalou naquele partido uma dinastia que apenas a morte quebrará? Ou será que naquele partido as coisas se passam ao contrário do que se passa no PS? Ou seja, enquanto que o PS não teve, pelo vistos, outro remédio senão ir buscar um candidato ao exterior, o PSD não teve outro remédio senão arranjar o mesmo candidato do interior?

Com efeito é estranho que o último congresso regional do partido no poder, ao contrário do anterior, tenha sido um congresso sem listas alternativas ou dissidências visíveis. Pressentiu-se que nem tudo estava bem, mas nada mudou ainda que cosméticamente. Até ao contestado Natalino Viveiros foi, calmamente, eleito vice-presidente do partido. O próprio ex-vice presidente do Governo, Costa Neves escapou por uma unha negra e lá acabou por ser «encaixado» por S. Miguel!

Assim, o PSD que sabia muito bem que teria que enfrentar novos desafios e uma renhida contenda eleitoral, sai com uma imagem pública de perfeita continuidade. Apenas com alguns dissabores de percurso como o show parlamentar de Renato Moura, a cambalhota na eleição dos órgãos partidários da Terceira ou a exótica saída de Borges Carvalho.

De resto tudo na mesma, como nada se passasse! O que é estranhíssimo.

Toda a gente sabe o grande desgaste que a figura de Mota Amaral sofre, hoje, na Região por causa dos longos anos de governação que leva e por não ter sido capaz, na altura própria, de disciplinar os barões do seu partido e de dar a imprescindível imagem de liderança forte e de renovação. Os agentes económicos e a opinião pública anseiam por uma renovação. De forma geral as pessoas estão fartas das mesmas pessoas, do mesmo discurso, do omnipresente compadrio, da constante incompetência, etc. Mesmo dispostas a votar no PSD, querem que algo mude.

A ideologia, pode dizer-se, morreu.

Muita pouca gente se preocupa, hoje em dia e sinceramente, com a ideologia. O comunismo foi enterrado com pompa e circunstância. O antigamente jaz morto e apodrece. A democracia cristã é um ghetto sem pretensões a maioria, qualquer coisa entre um fundamentalismo envergonhado e uma igreja sem sotaina. Ficam a social democracia e o socialismo, uma espécie de Benfica-Sporting ou Sporting-Benfica, conforme os gostos.

E é neste Benfica – Sporting/Sporting – Benfica que consiste a política regional. Ninguém acredita a sério numa vitória quer da CDU quer da AD - Açores. Foi isso que compreendeu o PS quando se deixou de tretas e mandou a ideologia às malvas e «contratou» um treinador «estrangeiro».

É isso que ainda ninguém entendeu se o PSD percebeu.

O Dr. Mário Machado não vai, obviamente, fazer um discurso ideológico. Primeiro porque sabe muito bem que a força da sua imagem tem residido no facto de ter fama de partir a louça quando é preciso e de resolver os problemas concretos. O PS pôs os seus líderes na prateleira e mandou o socialismo a banhos porque, provavelmente, percebeu que quem marca golos é que ganha. O resto é bom para tertúlias de intelectuais.

O PSD com a sua longa experiência governativa sabe muito bem, também, que a sua permanência no poder tem muito a pouco a ver com ideologia. Tem, sobretudo, a ver com a gestão adequada do aparelho de estado regional nomeadamente no sentido de manter satisfeita a sua clientela política habitual e de conquistar, se possível, faixas indecisas do eleitorado que vacilam entre as vantagens de uma mudança com incógnitas e uma situação que os não tem beneficiado mas cujos vícios conhecem.

A fase post-FLA, altamente inflamada de ideologia, já lá vai muito tempo. O discurso da autonomia é, hoje em dia, pouco mais do que um madrigal muito querido do Dr. Mota Amaral.

Por isso fica a dúvida se o PSD percebeu o que se está a passar na política regional. Se tivesse percebido era natural que se estivesse a afadigar com a aquisição de um naipe de novos jogadores que viessem dar algum alento a um treinador que já empolgou as multidões mas que, cada vez mais, se mostra pouco imaginativo e incapaz de voltar a encher os estádios.

Percebe-se que o PSD não mude de treinador porque não quer ferir a «velha» glória e porque se quer afirmar como o único grande partido que apresenta um candidato genuinamente seu. Agora, não se entende muito bem, porque não renova substancialmente o plantel e, porque não (?), até não arranja um treinador adjunto!

A próxima contenda eleitoral regional será renhida. Tem todos os ingredientes para isso. O voto terá a ver com perspectivas de melhoria das condições de vida e oportunidades de emprego. As ideologias contarão muito pouco. Como, aliás, está a acontecer por todo o mundo.

Será que o partido no poder está mesmo a perceber o que se passa?

Quo vadis PSD?



P E D R O  D A M A S C E N O


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