sexta-feira, abril 27, 2007

A segunda bofetada sem mão

A segunda bofetada sem mão


Já lá vão um bom par de anos desde que Malcom Clark criou e abriu ao público o seu museu de Cachalotes & Lulas em S. João do Pico. Depois de lhe terem virado as costas e ignorado a sua excelência científica.

Essa foi a primeira bofetada sem mão: um cientista de renome mundial vê-se constrangido a criar um museu particular de cetáceos perante a incapacidade (ou desinteresse?) institucional.

Agora um estudioso e homem de cultura – professor universitário – viu-se, também obrigado a encetar uma experiência piloto na área da agricultura orgânica e sustentável totalmente a expensas próprias.

Depois de ter visto o seu projecto recusado por instâncias educativas e pedagógicas ficou, por seu turno, constrangido a avançar para uma iniciativa que, pelo menos até à data, não despertou interesse oficial.

Com grande esforço de estudo, investimento e mesmo de trabalho físico, a experiência toma forma e já é possível apreciar uma exploração agrícola que caminha para se tornar totalmente sustentável.

Com base em investigação e experimentação tem sido possível criar no Pico uma exploração que tendo em linha de conta todos os factores locais tem vindo a desenvolver soluções que a irão tornar um caso de estudo.

Envolvendo pecuária, horto-fruticultura e alguma transformação como queijo e doces vem se tornando muma actividade capaz de manter um agregado familiar e, simultâmeamente, melhorar a qualidade do solo e produzir produtos quase inteiramente biológicos.

O que é crucial tendo em conta que a questão da qualidade alimentar se vem tornando central para a manutenção da saúde e a prevenção da doença e que localmente já quase tudo o que se come é importado.

Por outro lado é lugar comum falar na monocultura da vaca e no minifúndio agrícola que obrigam os agricultores a passarem a vida a transportarem gado e água entre pastagens. Situação que acarreta índices de produtividade baixos e custos de produção muito elevados.

O agricultor mantendo, na generalidade, baixos grau de escolaridade e não tendo adequado apoio técnico e científico tem uma actividade essencialmente empírica e tradicional. E que não sendo diversificada os coloca à mercê do mercado leite e da carne

Sendo, por conseguinte, indispensável incutir nas futuras gerações de agricultores, que agora estão na escola, gosto pelo estudo e pela criatividade. Ser agricultor não se compadece, nos dias que correm, com instrução básica.

Os novos agricultores – para terem sucesso – terão que adquirir muito mais competências das que têm presentemente. Competências que não se poderão ficar apenas por conhecimentos teóricos.

Sendo indispensável o trabalho de campo, a experimentação e a concretização de alternativas válidas e testadas para um sector que ameaça entrar em crise profunda.

Razões que tornam a indiferença oficial e oficiosa, perante um projecto-piloto de grande valia pedagógica e teórica, tanto mais graves. E que, também, o tornam numa verdadeira segunda bofetada sem mão.

Pelos vistos nós, que tão pouco temos, podemos continuar a dar nos ao luxo de desbaratar tão excelentes recursos humanos e patrimoniais e tal empenhamento no devir da nossa terra!




P E D R O D A M A S C E N O

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