sexta-feira, janeiro 05, 2007

A execução de Saddam Hussein

Execução de Saddam Hussein é "um marco importante no rumo seguido pelo Iraque no seu caminho em direcção à democracia”
Geroge W. Bush


A execução de Saddam Hussein
Um erro clamoroso



Ninguém questiona a estirpe de facínora que era Saddam Hussein, caído em desgraça após invasão anglo-americana do Iraque. Ninguém informado desconhece os crimes que cometeu, nomeadamente, contra os curdos.

Ninguém desconhece o carácter totalmente ditatorial e criminoso do seu regime. Ele próprio não se cansou de passear a sua petulância, arrogância e falta de respeito pelos mais elementares direitos, liberdades e garantias.

Muito de nós, lembrados dos seus hediondos crimes, sentimos que uma execução nunca seria de mais para punir tal barbárie. Sentimentos compreensíveis mas, essencialmente, reactivos e emocionais.

Mas – e este mas é crucial – o regime de Saddam foi, supostamente, derrubado para possibilitar a instalação de uma democracia e de um estado de direito no Iraque. Tal como os conhecemos na Europa.

E, tirando a muito controversa situação dos USA, a pena de morte foi há muito afastada das democracias consolidadas e a sua abolição tornou-se mesmo um símbolo civilizacional ocidental e europeu.

Apenas alguém tão míope, medíocre e falto de sentido de estado e de história (e de convicções democráticas?) como George W. Bush poderia ter dito o que disse: que uma execução possa ser um marco no caminho em direcção à democracia de onde quer que seja!

E o julgamento de Saddam Hussein não correu nada bem, antes parecendo uma opereta de baixo nível que não convenceu ninguém, nem pela sua isenção nem pela sua qualidade técnica.

A decisão de lhe ter aplicado, portanto, a pena de morte era de todo previsível e não surpreendeu. Mas era exactamente aqui que o novo regime do Iraque deveria ter mostrado a diferença.

Ou Saddam Hussein tinha sido abatido num cenário de guerra e o seu cadáver mostrado ao mundo como aconteceu – num dejá vu – com Jonas Savimbi. Ou teria que ter sido julgado num cenário de independência judicial com monitorização internacional.

Uma condenação à morte e respectiva execução não veio trazer ao Iraque pos-Saddam nenhum valor civilizacional diferente nem mostrar a diferença entre o antes e o depois. Irá, sim, acicatar mais o ódio e os extremismos entre sunitas e xiitas.

E – o que ainda o que é pior – poderá ajudar a promover um eventual “mártir” sunita.

A verdadeira humilhação que poderia ser infligida a Saddam seria, precisamente, fazê-lo passar o resto dos seus dias atrás das grades de uma prisão de delito comum após ter sido julgado por todos os crimes que cometeu.

Ter executado Saddam Hussein foi um erro clamoroso e uma forma primária de punição.


P E D R O D A M A S C E N O

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