terça-feira, março 20, 2007

SALAZAR

Se soubesses quanto custa mandar, obedecerias toda a tua vida
Citação do Estado Novo


S A L A Z A R



António de Oliveira Salazar continua, decorridos quase 33 anos após o 25 de Abril, a ser uma figura pública que suscita fortes paixões – seja no sentido negativo ou positivo.

Uma personalidade reservada e distante que ainda, recentemente, conseguiu a melhor votação de notoriedade num polémico programa de televisão. Que valeu apenas pela curiosidade sociológica que constituiu.

A democracia esta definitivamente instalada em Portugal e, tirando uma minoria muito pouco significativa, ninguém neste país quer a sério perder as liberdades que conquistou.

O Estado Novo não foi um fascismo no mesmo sentido em que o foram o regime de Mussolini ou de Franco e muito menos o hediondo regime nazi. O Estado Novo foi – antes de tudo – uma ditadura austera, provinciana e analfabeta.

Tendo sido Salazar um aluno de elevadas notas e um prestigiado professor universitário nunca conseguiu descolar da sua origem pobre e do seu passado de seminarista.

Sendo, segundo se diz, um apreciador do belo feminino sempre se comportou de uma forma misógina tendo incentivado um machismo radical que se cifrou por uma anulação da mulher como cidadã de pleno direito.

Possivelmente gostando de mulheres tinha, claramente, medo delas. Ou melhor, medo do mal que os prazeres do sexo pudessem trazer à sua vida de recolhimento e austeridade lembrando-se, talvez, da fábula da maça e da cobra!

Sendo um professor de economia geriu o estado com a contabilidade dos antigos merceeiros: dever, haver e pouco mais. Tendo o horror à inovação não tinha para o país uma visão estratégica de futuro.

Pobritos mas alegritos – uma frase que bem podia fazer parte do epitáfio do salazarismo.

Salazar sanou as contas do país, meteu ordem na administração pública e acabou com o regabofe político da I Republica. Depois meteu férias e geriu, durante o resto do seu consulado, a nação como quem gere um negóciozito em Santa Comba Dão.

Salazar era um homem inteligente, com princípios e acima de qualquer corrupção. Mas era, também, um homem seco, autoritário e sem sombra de criatividade: um eucalipto que secou tudo à sua volta.

Salazar deixou um país pobre e analfabeto e um povo atrofiado e castrado.

Passados todos estes anos perdura, ainda, na nossa paisagem sociológica a sua herança: ileteracia, provincianismo, mesquinhez, hipocrisia, submissão, machismo, religiosismo, falta de iniciativa, défice cívico, etc.

O que explica a vitória de Salazar no programa da RTP e que torna necessário um debate sobre as sequelas do salazarismo que, apesar da Europa e de trinta anos de democracia, ainda condicionam – de forma determinante – a nossa vida colectiva.

Salazar morreu e a democracia está consolidada mas o salazarismo ainda está longe de ter sido erradicado das nossas cabeças e comportamentos.



P E D R O D A M A S C E N O

Sem comentários: