sexta-feira, novembro 09, 2007

AÇORES - uma pérola que pode virar pedra

AÇORES
Uma pérola que pode virar pedra


A conceituada revista americana National Geographic Traveller Magazine no seu número de Novembro/Dezembro 2007 reuniu um painel de 522 especialistas em turismo e destinos de qualidade para avaliar uma selecção de 111 ilhas e arquipélagos.

A pressão turística exagerada e, também, o esforço em encontrar o equilíbrio para não prejudicar a natureza e as populações locais foram os principais pontos analisados.
Na assunção de que o turismo é um fenómeno que tanto pode cozinhar a nossa comida como pode queimar a nossa casa. Ou, por outras palavras, o turismo tanto pode ser uma fonte de desenvolvimento como pode destruir os lugares que mais amamos.

Os Açores ficaram em segundo lugar com 84 pontos na lista elaborada por esse painel, apenas ultrapassados pelas ilhas Faroe na Dinamarca! Tendo a Madeira ficado num modesto 69º lugar com apenas 61 pontos.

Um resultado, a todos os títulos impressionante, e que coloca novamente os Açores nas atenções do mundo. Tendo sido escrito que os Açores, remotos e temperados, ainda são um local pouco turístico e maravilhoso se não se tornar num destino de massas.

E também que o ecossistema do arquipélago está em grande forma. As baleias são ainda uma visão comum. A cultura local é forte e vibrante. É comum ser convidado para a casa das pessoas para jantar, ou ser recebido com uma refeição comunal durante um festival.

Da Madeira disseram que apesar da reputação como um local de turismo de alta qualidade, jardins bonitos e um cenário paradisíaco para passeios, a Ilha tem sofrido com o desenvolvimento de hotéis para massas que se espalham a partir do Funchal. Sendo esses hotéis altos um ponto negativo dado que não se integram na paisagem e são demasiado dominantes.

Evidentemente que nós, açorianos, podemos estar contentes com a posição alcançada pela nossa Região e lamentar, por outro lado, que a Madeira – com todo o esforço de investimento que lá tem sido feito – tenha ficado numa fasquia bem mais abaixo.

Mas – e isto é o principal – o que importa é tirar as devidas ilações de tudo isto.

Os Açores ficaram em tal posição não tanto pelo que tem sido feito em matéria de turismo mas pela baixa densidade turística que cá se vive e pela qualidade ambiental da nossa natureza que ainda não sofreu o impacto de um crescimento hoteleiro desenfreado.

A Madeira ficou no lugar em que ficou não porque não tenha também belezas naturais ímpares mas porque justamente tem sido alvo desse crescimento turístico e hoteleiro desenfreado que a tem descaracterizado.

Ilhas, melhor que qualquer outro tipo de destino, simbolizam e apelam a férias. A sua insularidade torna-as mais atractivas do que qualquer outra área continental já que são mundos em si mesmo, com as suas tradições, ecossistemas, culturas e paisagens.

Mas aquilo que as torna únicas – o serem micro-mundos – torna-as, também, mais vulneráveis às pressões demográficas e, sobretudo, sensíveis a um turismo de massas que, inevitavelmente, as descaracteriza e lhes retira a sua magia própria.

Por conseguinte o desenvolvimento turístico dos Açores terá que ser feito com todos os cuidados ambientais e tipológicos respeitando integralmente as nossas escala e identidade sem esquecer a lição dos erros dos outros.

O nosso arquipélago é, comprovadamente, uma pérola que está a ganhar progressiva notoriedade internacional mas que poderá virar pedra como outras já viraram se não soubermos ler os sinais dos tempos e acatar as exigências de um mercado altamente competitivo e selectivo.



P E D R O D A M A S C E N O

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