sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Negociar com firmeza

Mesmo os fanáticos mais radicais possuem instinto de sobrevivência
José Manuel Fernandes



Negociar com firmeza


A actual situação do Iraque veio demonstrar, para quem tivesse dúvidas, que o simples uso da força pode ser contraproducente criando um cenário, porventura, pior do que o previamente existente.

O estado de guerra civil instalado naquele país criou uma situação humana, social e económica bem mais negativa da que existia ao tempo do ditador Saddam Hussein.

O voluntarismo americano baseado numa mentira e apoiado por um desconhecimento profundo do terreno abriu a porta a uma situação que deixou de ter solução militar.

Como é evidente não serão mais uns milhares de soldados ianques que irão resolver o que quer que seja. Serão mais jovens a morrer, mais atentados a serem perpetrados e mais radicalismos.

Uma escalada imparável.

É lamentável que se tenha tornado tão banal a notícia diária de mais um atentado suicídio bombista em Bagdad com dezenas de mortos a que já ninguém liga. Tornou-se “normal” morrer por atentado na antiga Mesopotâmia.

Numa demonstração inequívoca de como é possível que em 2007 se assista a tamanhas barbaridades perante uma comunidade internacional castrada e bloqueada.

Com as Nações Unidas lamentando tal estado de coisas mas sem serem capazes de fazer nada. E com George W. Bush patenteando uma total incapacidade para perceber que a guerra está perdida e que, apenas, resta a via diplomática.

Negociar a paz no Iraque será uma tarefa ciclópica e que exigirá grande capacidade diplomático, conhecimento profundo do terreno e uma enorme firmeza mas será, inevitavelmente, a única saída.

Não sendo sequer necessário relembrar o conflito do Vietname que teve outros contornos mas que, também, foi uma claríssima derrota militar dos americanos. Sendo certo que a guerra do Iraque está, objectivamente, perdida.

Os Estados Unidos e os seus aliados militares não conseguem, nem ao menos, assegurar minimamente a ordem pública quanto mais assegurar a transição pacífica para uma democracia. Democracia que, alias, não é possível criar por decreto.

Compreensão que Bush e o seu núcleo duro continuam a não querer assumir: o tempo para uma solução militar está, há muito ultrapassado e para uma saída airosa também.

Apenas negociações conduzidas com base num consenso negociado entre republicanos e democratas e com as forças democráticas do resto do mundo poderão dar início a uma solução que será, mesmo assim, imperfeita.

Negociações que, por serem consensuais, poderão exercer um efeito dissuasor mesmo junto dos sectores mais radicais. Que sendo radicais tem, mesmo assim, instinto de sobrevivência e sabem distinguir muito bem entre firmeza real e radicalismo verbal inconsequente.

A diplomacia só é efectiva quando acompanhada de uma pressão forte e credível.




P E D R O D A M A S C E N O

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