sexta-feira, dezembro 16, 1994

OS CAPADORES DA ILHA (III)


FACE OCULTA


OS CAPADORES DA ILHA (III) OS FILHOS DA CAPADELA



Encerrados os debates parlamentares e votado o orçamento regional para 1995, correu o pano sobre mais um acto da farsa em que este nosso quotidiano picoense transformou.

Depois de tudo o que foi dito e redito por toda a gente, nomeadamente pelos nossos políticos da situação, o Pico ficou mesmo sem verba que estava contemplada no plano a médio prazo para 1995 e que se destinava ao aumento da pista da ilha. Opção que estava feita, depois de discutida e rediscutida desde os tempos em que foi inaugurado o aeroporto que já, então, devia ter tido a largura que ainda hoje não tem.

Mas nessa altura, como ainda hoje, não prevaleceu nem o bom senso nem sequer uma elementar conta aritmética. O que, ontem, teria custado literalmente mais tostões iria custar, hoje, três centenas de milhares de contos e custará provavelmente, amanhã, o dobro. Quem inscreveu, no início desta legislatura, uma verba substancial no plano a médio prazo para o alargamento da pista do Pico não o fez, certamente, de ânimo leve. Deve ter tido, como é lógico, razões poderosas que, posteriormente, tudo e todos vieram confirmar.

Razões que não foram postas em causa por uma recém-inventada surrealista teoria que afirma que a espessura da pista do Pico não é satisfatória e que alargar a pista significaria refazer todos o piso betuminoso o que atiraria os custos para valores astronómicos! Uma tese desprovida de qualquer fundamento técnico e para cuja confirmação científica insuspeita, desde já, se lança aqui o repto a quem tem direito. 

Contexto em que os deputados picoenses eleitos pela maioria regressaram ao Pico, com o rabo entre as pernas, trazendo apenas um salvar de face consubstanciando numa humildérrima verba de 10.000 contos destinados à realização de um estudo (agora?) de viabilidade do aumento da pista!

Contrapartida que conseguiram obter, possivelmente a ferros, em relação aos mais cerca de 800 mil contos que São Miguel conseguiu obter para 1995! Por pouco não voltaram completamente desfeiteados.

Porque esses 10.000 contos foram apenas isso: um salvar da face dos deputados picoenses do PSD que votaram a favoravelmente um orçamento que retirou ao Pico uma verba avultada já consagrada num plano a médio prazo e reivindicada por todos os sectores da ilha capitaneados pelo Conselho da Ilha.

Se é verdade que em termos estritamente, aritméticos 10.000 contos é melhor do que nada não é menos verdade que os autarcas e deputados da ilha eleitos pelo PSD sofreram uma humilhante derrota infligida pelo seu próprio partido. Derrota infligida pelo seu próprio partido. Derrota que calaram em troca de um prato de lentilhas.

Só se pode esperar, agora, é que possam tirar dessa grande derrota as respectivas lições e prepararem o futuro que, pelos vistos, não se apronta para lhes ser grandemente favorável. Hoje foi a pista, a seguir serão os muitos projectos que vão ter que ficar na gaveta à espera de melhor oportunidade. É assim a política mesmo para quem se acolhe debaixo de protecção do sombreiro governamental!

Mais uma vez os capadores da ilha mostraram que estão activos e não brincam em serviço. Venham eles disfarçados de directores regionais munidos de pseudo argumentos técnicos, de administradores da SATA com estatísticas de cancelamentos misturando alhos com bugalhos ou de joviais e gozadores deputados da ilha capital.

A ilha do Pico não precisa de uma pista em condições porque tem sonhos inconfessáveis ou inconfessados de ter TAP ou de ter charters (se calhar até poderia vir a ter, um dia, esses sonhos uma vez que o sonho comanda a vida!). O que o Pico precisa, urgentemente e agora, é de ter um aeroporto que permita uma operação normal da SATA nomeadamente no Inverno e é essa a reivindicação que todas a gente sensata advoga. O resto são histórias da carochinha.

E o que nos deixa a nós todos como filhos da capadela.


P E D R O  D A M A S C E N O

                                                                                           

Sem comentários: