sexta-feira, agosto 01, 2008

Novos tempos,novos desafios

Quem trabalha assume responsabilidade
Manuel Tomás





Novos tempos, novos desafios



Ao dobrar os vinte anos, Ilha Maior ganha um novo director. Desta feita um jornalista, homem da casa, que tem a difícil tarefa de prosseguir o trabalho iniciado por Manuel Tomás, que deu ao jornal o timbre de qualidade que o impediu de se quedar por ser mais uma folha de couve da província.

Ilha Maior conheceu grandes momentos de jornalismo esclarecido, erudito e, sobretudo, descomprometido. Sem se tornar num mero entretenimento de elites conseguiu criar um quinzenário e, depois, um semanário de referência na imprensa regional.

Tive o privilégio de colaborar, praticamente, desde a primeira hora. Sempre com a maior liberdade e com os indispensáveis estímulos para prosseguir. Por isso e porque acredito, também, no futuro do jornal aqui me encontro com o entusiasmo do princípio.

A Manuel Tomás coube o lançamento dos alicerces e a consolidação do sonho do poeta. Cabe, agora, a David Borges vencer os desafios de confirmar o rumo, em plena liberdade e pluralismo, para tempos de crise.

Liberdade e pluralismo que são a base da democracia. Pilares que o próprio poder político, se esclarecido, tem todo o interesse em fomentar. Sob pena de os jornais se poderem tornar, apenas, em correias de transmissão que – ao fim e ao cabo – ninguém acaba por ler.

E que não servem, por isso, qualquer causa. Nem a dos políticos porque elogio sem isenção acaba por ser ratoeira a prazo, nem a dos leitores porque informação louva-minha e condicionada não fomenta cidadania nem promove dignidade.

Terras pequenas, em que todos se conhecem, tornam difícil a crítica, por muito correcta e justa que seja. Mas não há outro caminho. Já que, somente, este pode proporcionar pedagogia democrática e uma cultura de frontalidade amigável.

Ferramentas indispensáveis ao progresso.

Tenho orgulho de ao longo de todos estes anos ter escrito sempre o que pensava sem ter dado origem a qualquer polémica, panfletária e corriqueira. Talvez porque sempre procurei trabalhar a palavra – um instrumento da maior importância – com elevação e isenção.


Como dizia na primeira crónica que redigi para o Ilha Maior apenas pretendo ser um grão de areia. Fazendo desta coluna um espaço de reflexão, tentando intervir de forma crítica e criativa no nosso dia a dia. Procurando sempre as faces ocultas das pessoas, das ideias e dos acontecimentos.

A aventura humana é um autêntico caleidoscópio que nos revela, constantemente, uma riquíssima multiplicidade de imagens e emoções. Sendo necessária humildade e generosidade na procura dos nossos caminhos colectivos. O futuro é, necessariamente, um salto para o desconhecido que, no fundo, é o nosso destino.

Questionar o presente com coragem e determinação é a chave para um futuro mais sólido. Aceitar um quotidiano baço e cinzento por via da intimidação e da chantagem não é, portanto, caminho aceitável para quem quer o progresso e o bem-estar.

A imprensa tem, hoje, um grande peso. Que lhe confere grandes responsabilidades e lhe exige ponderação, correcção e exactidão – num contexto profundamente livre, independente e pluralista.

Acredito que seja este o rumo do novo director a quem desejo os maiores êxitos. Os novos tempos que se avizinham vão exigir novos caminhos. A Ilha Maior que deu, por via do poeta, o nome a este jornal disso bem precisa.


PEDRO DAMASCENO

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