quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O polvo fundamentalista

Os responsáveis (pelas caricaturas) devem ser decapitados!
Cartaz de jovens muçulmanos na manifestação de Londres




O polvo fundamentalista


Há males que vêm por bem.

A onda de violência, histérica e gratuita, desencadeada pelo fundamentalismo islâmico sob o pretexto de umas caricaturas do profeta Maomé publicadas num jornal dinamarquês, é um desses males.

E vem por bem porque, possívelmente, virá a abrir os olhos a muita gente que ainda não percebeu a gravidade do islamismo fundamentalista e o seu carácter de polvo multitentacular.

A Europa, ciosa dos seus pergaminhos democráticos e culturais bem como da sua tradição de tolerância civilizacional e religiosa, poderá ver ruir – num ápice – um edifício que parecia à prova de bala.

E, ironicamente, a onda de intolerância e radicalismo religioso erigiu como seus principais inimigos os países nórdicos. Conhecidos pelo seu curriculo especialmente brilhante em matéria de tolerância e de defesa das causas étnicas e do multiculturalismo.

Não questionando o bom ou mau gosto das caricaturas de Maomé e muito menos o respeito que lhe é devido há, contudo, um princípio que fundamenta toda a cultura de liberdade do ocidente: o direito de expressão. E sobre esse direito não pode haver qualquer tergiversação esteja em causa Cristo, Maomé, Moisés ou, mesmo, Deus.

Os limites da liberdade, num estado de direito, só podem ser os da lei desse mesmo estado. Lei que foi, obviamente, democraticamente discutida e votada. Tudo o resto só pode existir na cabeça de fanáticos radicais, desprovidos de qualquer respeito pela liberdade e pela tolerância.

Fanáticos que foram os primeiros a descredibilizar e desrespeitar o Corão e a religião muçulmana que se vê, assim, usada para fins completamente alheios à sua vocação e com meios que nada têm a ver com os pregados pelo profeta Maomé.

Sendo, também, profundamente irónico que tenham sido, precisamente os tais fanáticos “guardiões” da honra de Maomé a dar o mote para a caricatura que mostra o profeta com uma bomba no turbante! Então não foram eles que fizeram ou mandaram fazer os ataques em Nova Iorque, Madrid e Londres para além das chacinas diárias no Iraque?

Não são eles que, agora, destroiem embaixadas e desencadeiam ondas de violência completamente desproporcionadas comandadas por imãs que vociferam em nome de Alá e de Maomé. Não foram eles que, há anos, tiveram a audácia de condenar à distância e à morte o escritor Salmon Rushie e assassinaram, recentemente, em plena via pública um cineasta holandês?

Esses mesmos que, nos respectivos países, mantêm regimes fortemente ditatoriais e que colocam as mulheres num plano secundário de intolerável discriminação sempre em nome de um deus ou de um profeta que não se podem defender.

Sendo bem triste e lamentável – para quem ama a liberdade e a tolerância – o que se passa nesses países só faltava, agora, que viessem tentar impôr nos nossos países as mesmas práticas totalitárias de intolerância e discriminação.

Objectivo que é o deles e que a Europa – que já está a lidar com uma escalada muito grave de violência e fanatismo – terá de combater pondo, muito rapidamente, os pés à parede.

Tendo, para isso, de se deixar de chavões politicamente correctos e políticas “soft”e não repetir os mesmos erros que cometeu com o advento do nazismo, desvalorizando o que é mesmo muito sério e uma ameaça real para a nossa civilização ocidental e, o mesmo é dizer, para a liberdade.

Não assobiando para o lado, como tantas vezes tem feito.

Em Roma sê romano. Quem não gosta de nós e do que nós representamos não tem que nos sofrer mas o inverso é rigorosamente verdade. Que cada um viva aonde se sinta bem e goste de viver mas que o faça em pleno respeito pela casa que escolheu.

Qualquer tipo de capitulação em matérias que são o cerne da nossa civilização levará, inevitavelmente, a conflitos generalizados (que no limite poderão chegar aos nucleares) e à desagregação da nossa matriz política, social e cultural.

Há que agir e depressa.

P E D R O D A M A S C E N O

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