sexta-feira, dezembro 01, 2006

Encontrei Deus na lixeira

O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano.
Isaac Newton


Encontrei Deus na lixeira




“…. Para que livre a minha casa da justiça e de todas as pessoas que me queiram mal, das bruxas, das enrarilhadeiras, das pragas dos males de inveja. Reza-se 3 Credos e diz-se: ….”

Assim rezava, em parte, o papel que jazia juntamente com o crucifixo de metal prateado com o Cristo a quem falta a mão e o antebraço direitos. No “aconchego” de uma lixeira para onde foi enviado no ano da Graça de Deus de 2006.

De surpresa, ao entardecer de um dia magnífico de S. Martinho, tive um encontro mágico com Deus que fora tão displicentemente enviado para a lixeira. Porque uma imagem e Deus (propriamente dito) são uma e a mesma entidade.

Pelo menos para quem acredita no valor das imagens e com elas dialoga quando quer falar com Deus. Ao jeito do anúncio de um jornal local que, há bem pouco tempo, falava da vinda da Mãe de Deus a uma das nossas vilas.

Naturalmente que não se referia – presumo – à Mãe de Deus de carne e osso mas tão-somente a uma das suas imagens dando, por conseguinte, a Esta o estatuto divino. O que coloca a questão no foro exclusivamente, confessional.

E sendo os Açores uma região em que o catolicismo é maciçamente maioritário não será abusivo imaginar que quem para a lixeira atirou Cristo será, com grande probabilidade, católico apostólico romano.

Possivelmente uma pessoa para quem não restam dúvidas quanto ao caracter divino das imagens do Senhor Bom Jesus ou do Senhor Santo Cristo dos Milagres não hesitando em tocá-las ou beijá-las em busca de ajuda ou de conforto.

Como, logicamente, não deverá haver imagens de primeira e de segunda, qualquer uma – independentemente do seu tamanho, material, localização ou notoriedade – representa Deus. Sob pena de todas elas perderem, afinal, o valor.

Uma imagem religiosa, seja ela qualquer for, é como um filho. Uma vez adquirida é encargo para toda a vida: nunca um filho deixa de ser filho nem a imagem deixa de ser Deus. A menos que se atribuísse a um ou ao outro um prazo de validade.

De modo que quem atirou o Cristo para a lixeira fê-lo, provavelmente, sem pensar em nada disso o que equivale a achar que a imagem tinha perdido a validade e já não prestava. Sem ter, concerteza, por isso renunciado à sua fé.

Assim vai a nossa espiritualidade. Um bem de consumo para deitar fora quando vira velho e se faz uma limpeza geral à casa. O Deus de ontem é um trapo velho, amanhã.

Quase como tudo o resto: consumível e descartável.

Num dia a Mãe de Deus é passeada e homenageada na vila, no outro o seu Filho é deitado fora! As duas faces de uma só moeda: o encanto e a fé de um lado e, do outro, um profundo desrespeito.

Para mim, tratando-se de quem se trata, encontrei Deus na lixeira. Que, ás tantas, está a olhar para tudo isto com um sorriso irónico...







P E D R O D A M A S C E N O

1 comentário:

Desambientado disse...

Caro Pedro.
Gostei do seu blog, especialmente do artigo Maldita Cocaína.
Tenho um págin no Jornal a União, da Terceira, intitulada Blogs.do.mundo,´da´-me autorização para publicar esse seu post?

Cumprimentos

Félix