sexta-feira, março 24, 2006

As Manifestações de Paris

As manifestações de Paris


A situação de agitação social que se vive, presentemente, em Paris – bem no centro da Europa – é mais um sinal dos tempos difíceis que aí vêm ou, melhor, que aí estão.

E, também, mais um bom exemplo de uma situação que escapa aos chavões políticos clássicos de direita/esquerda, representando – antes – o mal estar profundo que atinge o estado providência.

Estamos a falar da França que foi o Eldorado dos emigrantes portugueses das decadas de 60, 70 e mesmo 80. O país que acolhia, de braços abertos, a mão de obra estrangeira.

O mesmo país que, hoje, se vê a braços com uma constestação que visa assegurar uma estabilidade de emprego aos jovens que, obviamente, o estado não está em condições de garantir.

E nenhum governo, seja de direita ou esquerda, gosta de ser contestado de forma tão extensa e continuada. Isso irá custar-lhe e/ou aos seus dirigentes, inevitavelmente, votos a muito curto prazo.

Pelo que, um pouco à semelhança do que também se passa por cá, se perceba que o governo francês se tenha visto, antes, forçado a assumir o ónus de uma medida que se tornou, provavelmente, indispensável.

As nossas sociedades de abundância e estabilidade habituaram-se a esquecer, sistematicamente, a miséria e a pobreza profundas que atingem continentes inteiros e milhões de pessoas.

Desvalorizando sempre a ideia popular de que não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. Pensando que essas situações de profunda desigualdade estavam lá bem longe, incapazes de beliscar o nosso bem estar.

Mas, quase à velocidade da luz, tudo isso tem vindo e mudar e a a vulnerabilidade da Europa é, hoje, um facto evidente. Seja ao terrorimo, à emigração clandestina maciça ou à concorrência comercial violenta dos paíes asiáticos e do continente indiano.


O próprio gigante americano está de cócoras perante um situação que criou no Iraque e, agora, não é capaz de resolver adequadamente e uma ameaça bem real de um Irão que não hesitará em esticar a corda ao limite.

A presente crise económica que se vive em França e na Europa está ligada a questões que ultrapassam, em absoluto, os problemas laborais que parecem ser a base das manifestações de Paris.

Mas são, realmente, muito mais a ponta de um grande icebergue à escala mundial que tem vindo a ameaçar o modelo de estabilidade laboral e crescimento económico que nos habituamos a ter.

Hoje deixou de ser possível pensar, apenas, a uma escala nacional e, muito menos, a uma escala individual. Hoje, um espirro na China provoca, de imediato, uma gripe no resto do mundo.

E é a essa luz que os acontecimentos de Paris devem ser vistos. O estado francês, tal como o português ou o alemão, deixou de poder assegurar uma estabilidade de emprego plena.

Os nossos jovens, que tanto mimámos e estragamos, têm que começar a perceber a nova ordem mundial que aí vem e que não se compadece com guetos de bem estar num mundo profundamente desiquilibrado.

É indispensavel que se se esqueçam, apenas, do próprio umbigo e arregacem as mangas para vencer o desafio de encontrar um lugar ao sol numa grande casa em que há, cada vez, menos pão.




P E D R O D A M A S C E N O

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