quarta-feira, junho 14, 1995

Subsídio pra o Cidadão

FACE OCULTA


“DEIXAR VOAR EM CONDIÇÕES DE IGUALDADE”
SUBSÍDIO PARA O CIDADÃO E NÃO PARA A COMPANHIA


O recente e inadmissível aumento das tarifas aéreas entre Lisboa e a Região veio, na minha opinião, repor na primeira linha das preocupações regionais uma questão que se revela da maior importância para o arquipélago.

Porque é rigorosamente inadmissível que um bilhete de avião Açores-Lisboa-Açores, com preço especial (?) de residente, seja mais caro que um bilhete Lisboa-Londres-Lisboa ou Lisboa-Paris-Lisboa! O que torna, para a maioria dos açorianos, absolutamente proibitivo viajar para Lisboa ou seja utilizar um voo doméstico que é a única alternativa de ligação com o continente, o mesmo é dizer, com o resto do país. Só mesmo em caso de doença!

Para já não falar do espaço europeu em que estamos inseridos e que é, também para a maior parte de nós, uma realidade completamente intangível. Sendo, por outro lado, mais barato para os portugueses em geral viajar para qualquer parcela do continente europeu do que para uma parcela do seu próprio país. Situação que, embora tendo alguns eventuais fundamentos económicos, não deixa de ser completamente castrante do desenvolvimento económico da Região para não falar de evidentes desigualdades de direitos dos açorianos face aos restantes cidadãos do seu país.

Desvanecido que foi o “sonho” da SATA – Air Açores de viajar para fora da Região, mantém-se, contra toda a lógica, um monopólio da TAP mesmo em relação à Portugália, companhia tão portuguesa como aquela e que tem provado ser gerida com maior rigor e sentido de viabilidade que o verdadeiro elefante branco em que se transformou a nossa companhia de bandeira.

Toda a gente sabe que a TAP é uma companhia com uma estrutura de custos completamente inviável. Facto que os milhões injectados pelo estado não têm conseguido alterar sendo mesmo questionável que os próximos milhões de contos (700 milhões?) que o governo vai ter que disponibilizar nos próximos 4 anos para a tentativa de viabilização da empresa consigam resolver o problema.

E é, também facto incontroverso que os grandes déficites da TAP nada têm a ver com as ligações aéreas com as regiões autónomas. Os déficites da TAP têm, sim, a ver com os outros factos que não passam, nem de perto nem de longe, por essas ligações. E tudo leva, mesmo, a crer que as rotas para as nossas ilhas são bem positivas para a TAP. Se assim não fosse não faria sentido o interesse que a transportadora nacional tem na manutenção do monopólio.

Monopólio que nas palavras de Ribeiro da Fonseca, presidente da Portugália, “é contra o desenvolvimento económico e turístico das Regiões Autónomas” não entendendo, também, aquele empresário que o subsídio de residente vá parar às mãos da companhia e não do cidadão que, de outro modo, poderia procurar alternativas. Situação que cria desigualdade de condições para voar a empresas igualmente nacionais, retirando competitividade ao mercado aéreo das regiões insulares que se vê, assim desprovido de uma das mais elementares regras da economia de mercado.

Ao definir uma política aérea nacional, sobretudo no que diz respeito aos Açores e Madeira, com regras claras e equitativas que permitam voar em condições de igualdade outras companhias nomeadamente, portuguesas está-se, iniludivelmente, a julgar o nosso futuro. É já um chavão mais do que conhecido a ideia de que o nosso desenvolvimento passa por transportes adequados e a preços acessíveis mas nunca foi tão verdade como hoje em dia.

De facto, os Açores, cada dia que passa, afastam-se mais de uma economia de subsistência para terem metas de desenvolvimento e bem-estar ao nível europeu como é justo e legítimo. Ora estas metas jamais poderão ser atingidas se o peso da insularidade aumentar em vez de diminuir. E o peso da insularidade conhece o seu expoente máximo ao nível dos transportes sobretudo quando a sua saúde financeira depender, de forma cada vez mais significativa, do turismo.

A actual política aérea para a Região autónoma dos Açores não serve e é, objectivamente, um dos maiores travões ao desenvolvimento regional. A TAP serve mal e caro. É, por isso, prioritária a definição de uma nova política para as ligações Lisboa-Açores que respeite as regras do mercado, proporcionando igualdade de condições de voar para a Região e pondo as mãos nos cidadãos residentes qualquer eventual subsídio que se atribua e que, desse modo, terão uma palavra a dizer.

Que queiram impedir que as companhias estrangeiras operem para os Açores nos voos domésticos ainda se percebe, embora a palavra estrageiro em termos europeus faça, cada vez mais, pouco sentido.

Mas impedir que a Portugália o faça só faz sentido por razões perfeitamente obscuras, pelo menos, para o cidadão comum.


P E D R O  DA M A S C E N O


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