FACE
OCULTA
CARTA ABERTA AO DIRECTOR DO ILHA MAIOR
(TRIÂNGULO OU MITO?)
Caro Director
Após vários anos de colaboração
regular é a primeira vez que lhe dirijo uma carta. E fi-lo porque vi um repto
seu, público, cair em saco roto, como se diz.
No penúltimo número do jornal
tentou, em editorial, abrir um debate público sobre a momentosa questão dos
transportes marítimos entre ilhas do triângulo com especial ênfase para as
ligações São Jorge-Pico.
Ao contrário do que seria de esperar
– dada a importância do assunto – a resposta foi nula. Facto que inspirou o
subtítulo desta crónica pois a questão do triângulo ainda continua a ser muito
mais um mito/fantasia do que uma realidade palpável. Nem mesmo a constituição
da associação dos municípios do Faial, Pico e São Jorge conseguiu corporizar o
arranque efectivo dessa ideia que continua tão longínqua como a do Pico – ilha
do Futuro.
A ideia do triângulo continua,
ainda, a ser sentida (a sério) apenas por um punhado de pessoas que perceberam,
realmente, que o destino destas ilhas – numa perspectiva de desenvolvimento, de
progresso e de qualidade de vida – passa pela união desses três pequenos
universos ilhéus que separadamente pouco ou nada podem mas que, em conjunto,
poderão constituir uma das mais férteis apostas da região sobretudo num sector
que se postula como uma grande aposta de futuro nos Açores: o turismo.
Por isso, caro director, resolvi eu,
já que mais ninguém o fez, escrever-lhe esta carta. Para o felicitar pela
iniciativa e para tecer armar a seu lado.
A ideia da imprescindibilidade de
boas e regulares ligações marítimas entre as três ilhas que defendeu é, também,
no meu entender, crucial para que o conceito de triângulo tenha expressão
prática.
Ou, sendo um pouco mais radical,
nunca haverá triângulo enquanto as três ilhas não forem ligadas por transportes
marítimos regulares (no mínimo diários), eficientes e económicos. Esses são os alicerces em que terá que
assentar o triângulo. E, por consequência, se eles não existirem não haverá
triângulo.
São Jorge e Pico tem estado
afastadas, exactamente, porque não têm ligações diárias – uma de manhã e outra
tarde. Ligações que, numa primeira fase, terão, necessariamente, déficites de
exploração mas que, rapidamente, poderão ser rentáveis. Para tanto bastará que
as populações das duas ilhas se habituem a aproveitar as mútuas
potencialidades, para já não falar do turismo.
E as potencialidades de intercâmbio
(industriais, comerciais, de saúde, culturais e de lazer) são inúmeras mas
bastará reflectir apenas no alargamento do universo de consumidores, que a
ligação entre as duas ilhas implicará. E que ficará, naturalmente ainda mais
reforçado com o Faial.
A recente decisão da Associação dos
Municípios do triângulo de desenvolver acções no sentido da aquisição de um
barco para garantir as ligações regulares São Jorge- Pico é extremamente
positiva, a nível oficial e institucional, a urgência e a importância desta
questão.
Obviamente a Transmaçor, que não
consegue sequer ligar, adequadamente, o Pico ao Faial não vai, por maioria de
razões, ser um parceiro credível para iniciar este tipo de ligações. Essa
transportadora que continua a mostrar uma completa insensibilidade para
responder aos desafios do desenvolvimento e da modernidade (em pleno mês de
Maio ainda não tem a lancha da tarde, senão a partir do dia 14!!) não vai
certamente considerar uma linha de “risco”.
Mas, e nisso estaremos todos de
acordo, os custos de exploração inicial das ligações regulares São Jorge Pico
terão custos eminentemente sociais e que terão que ser suportados, em grande
parte pelo menos e no início da exploração, pelo erário público. Porque é,
exactamente, para esse tipo de coisas que é importante que exista autonomia:
para perceber e suprir as especificidades das diferentes ilhas e áreas do arquipélago.
E a especificidade máxima das ilhas do triângulo, é, justamente, a necessidade
fulcral e inadiável das ligações marítimas regulares.
Caro Director
O repto está, agora, nas mãos dos
políticos (sobretudo dos autarcas e dos deputados) e dos agentes económicos
que, em colaboração estreita, deverão procurar os meios e exercer as pressões
necessárias à concretização desse objectivo.
Penso que o seu desafio veio numa
altura muito oportuna e seria óptimo que mais gente viesse dar o seu contributo
para uma questão da mais alta relevância para essa área e cujo desfecho
dependerá, sem dúvida, do montante do apoio e empenhamento público das mais
variadas entidades e da população em geral.
Com os melhores cumprimentos,
P
E D R O DA M A S C E N O
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