A dança dos transportes
Um arquipélago de nove ilhas, com pretensões a ser destino turístico, como os Açores tem que ter uma política que assegure transportes eficientes, fiáveis e de custo aceitável.
A nossa condição a isso obriga.
Contudo as complicações, desencontros, insuficiências e preços dos nossos transportes não auguram nada de bom. Viajar de avião entre as ilhas continua a ser proibitivamente caro e de barco uma aventura.
Verdade para toda a Região mas, ainda mais verdade, para as ilhas do Triângulo e Flores. Por aqui o aeroporto do Pico jaz morto e apodrece e as ligações marítimas com São Jorge são o que são.
Restando a esperança que as reiteradas promessas políticas de ligações diárias e todo ano com a Ilha do Dragão tenham, já este ano, concretização. E que, finalmente, a novela do abastecimento de combustível às aeronaves no aeroporto do Pico termine.
Esperando-se, também, que os cancelamentos do aeroporto da Horta não continuem a significar aterragens na Terceira e regresso a Lisboa transformando uma viagem de duas horas e meia em sete horas e meia. Assim não há turismo que resista.
Como se espera que o horários publicados pela Transmaçor na Internet correspondam aos horários efectivamente praticados. Ninguém acredita que essa discrepância possa existir mas a verdade é que existe e muito boa gente perdeu ligações por isso mesmo!
Passados dois anos sobre a inauguração do aeroporto e da realização de investimento de 25 milhões de euros, o Pico continua a ser tudo menos um aeroporto alternativo ao da Horta e, ainda menos, uma gateway da Região. Cheirando o voo semanal a mera desobriga política.
Do outro lado do Canal de Vitorino Nemésio estão cerca de 10.000 pessoas inquietas para verem a sua Ilha ligada, de forma consistente e eficaz, ao Pico e ao Faial e por terem acesso rápido a uma gateway que lhe permita entrar e sair da Região com a fluidez que as limitações do seu aeroporto não permitem.
Não podemos continuar sujeitos ao livre arbítrio da SATA Internacional e da TAP pesem embora as boas intenções do regulamento de serviço público. Terá que existir um conjunto de procedimentos estandardizados para os cancelamentos. Os pilotos não podem ter a última palavra.
É sabido que a palavra de boca é a melhor forma de promoção mas experiências quase surrealistas que continuam a acontecer, quer de avião quer de barco, não auguram nada de bom. Já basta o nosso destino ser caro.
O desafio está, sem dúvida, dos lado dos políticos que não podem continuar esconder-se por trás da teoria que o mercado é que funciona mas está também do lado dos empresários e respectivas associações.
O dossier dos transportes é muito complexo não se compadecendo com visões e reivindicações simplistas e, muito menos, com medidas avulsas. É indispensável pegar nele com uma atitude fresca e isenta de preconceitos num ambiente de diálogo e concertação.
Ou então continuaremos a ser somente um potencial destino turístico e um negócio de apenas dois meses por ano.
PEDRO DAMASCENO
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