sexta-feira, setembro 04, 2009

A insustentável leveza da nossa democracia

nunca ninguém nos presta contas de coisa alguma
Ricardo Costa




A insustentável leveza da nossa democracia



Aproximam-se novos actos eleitorais e aí está a parafrenalia promocional. Cartazes, cores, frases e - mais tarde - tea-shirts, esferográficas, bonés e mais cartazes e frases. E muita barulheira.

Chegou o zénite da nossa democracia: as campanhas eleitorais. As máquinas partidárias aquecem os motores e os militantes acordam depois de uma longa hibernação. Os escritórios desertos animam-se de novo.

Os programas e folhetos que praticamente ninguém lerá (porque não vale a pena?) saem para a rua. Provavelmente a sua aplicação nunca será monitorizada, de forma transparente e sistemática, fado a que já nos habituámos ao longo dos mais de 30 anos da nossa democracia.

Fica tudo mesmo assim.

Os partidos políticos empenham-se, nova e encarniçadamente, na luta pelo poder. O que, na prática, acaba por ser o seu grande objectivo pesem as listagens de soluções, mais ou menos milagrosas, que sempre propõem para salvar o país.

Não questionando as boas intenções - que dessas está o inferno cheio – fica a ideia de que os programas são uma chatisse. E que servem sobretudo para serem argumentos em sede de debates que, mesmo assim, quase sempre descambam para diatribes pessoais.

A grande maioria dos leitores submerge perante a avalanche inusitada de informação e de interesse pelas suas anónimas pessoas que, na véspera, não constavam do mapa e agora recebem resmas de apertos de mãos e de pancadas nas costas.

Vindos de um grande vazio de militância partidária e ideológica e de activismo cívico os eleitores são, de repente, o centro de todas as atenções. Uns mordem a isca mas um grande número desconfia e fica em casa. Uma minoria mais politizada vai tentando fazer navegação à vista e votar útil

Crescentemente.

Longe vão os tempos do debate político convicto e participado. E assim vai a insustentável leveza desta nossa democracia que persiste em tornar a política num circo feérico e mediático em que a imagem vale quase tudo e a substância quase nada.

A abstenção dispara e o interesse cai a pique. O recrutamento dos políticos entra numa crise semelhante ao recrutamento de sacerdotes. Quem não pode caçar com cão caça com gato e portanto que venha a nós quem quer e não quem é preciso.

É necessário lutar pela democracia porque não há alternativa. É necessário defender os partidos porque sem eles não há democracia. Mas ainda bem que há vida para além deles e dos períodos eleitorais e talvez seja essa mesma a chave para o futuro.


PEDRO DAMASCENO

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