Fuck them
Alberto João Jardim dirigindo-se a jornalistas
“Fuck them”
Qualquer pessoa que perceba, minimamente bem, inglês sabe que o título desta crónica é do mais ordinário que se pode dizer na língua de William Shakespeare. Embora comum hoje em dia, mas muito ordinário em qualquer dos casos.
Então porque o escolhi?
Porque foi essa a expressão que o Presidente do Governo Regional da Madeira entendeu adequada para mimosear os jornalistas que indagaram das razões porque Manuela Ferreira Leite usou automóveis do Governo Regional na sua visita partidária à Madeira.
Expressão que dita publicamente (tendo sido transmitida pela TV) se enquadrava, até 1983, num crime público. Tendo sido despenalizada não deixa, por isso, de ser totalmente ofensiva e inadequada ainda agora.
E perante tudo isto, mais uma vez, nada aconteceu!
O Presidente da República a banhos em Boliqueime. E o resto do pessoal a encolher os ombros e a acomodar-se, novamente, aos destemperos (de que origem?) daquele que se apresenta como o bobo de serviço na Corte da Madeira.
Penso que nem Benito Mussolini, pese embora a sua forte veia de palhaço, foi tão longe.
É difícil perceber como um país que se indigna tão violentamente com a suspensão do noticiário da Senhora Manuela Moura Guedes não reaja ao facto de um Presidente de Governo Regional mandar “foder”, em alto e bom som e com todas as letras, os jornalistas!
E não consta que o respectivo Sindicato tenha decidido tomar alguma atitude e, muito menos, que a AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social) tenha tomado posição sobre o assunto.
Embora seja público e notório, desde há muito tempo, que o Dr. Alberto João Jardim deixou de ter condições para exercer um cargo de tal importância.
Não só pela mais elementar falta de boa educação e respeito pelos outros como, sobretudo, pelo desrespeito provocatório, trauliteiro e sistemático dos órgãos de soberania nacional num exemplo flagrante de ausência de sentido de estado e de cultura politica e democrática.
Só não vê quem não quer ver. O eterno argumento de que arrecada sempre o voto popular é, no mínimo, patético. Como se toda a gente não soubesse como estas coisas se fazem com o beneplácito de um regime democrático frouxo.
O que torna o regime da Madeira num exemplo paradigmático das perversões da democracia quando ela é entendida como um simples ir a votos. E, o mesmo é dizer, da ileteracia e do caciquismo que ainda se vive em Portugal. Pragas de que não nos livraremos enquanto houver, no activo, semelhantes políticos.
Mas tudo isto é bater em ferro frio porque, há muito, que a democracia portuguesa se afunda num conformismo exasperante e num aparente complexo do exercício da autoridade com a óbvia falência do normal funcional das suas instituições.
Mas lá que irrita e machuca, é verdade.
PEDRO DAMASCENO
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