FACE OCULTA
A pátria é a família amplificada
Rui Barbosa
FAMÍLIA
Já na sociedade
romana a família era uma unidade económica, religiosa e política com um
interface de afectos mas em que predominava, como era próprio de uma sociedade
machista, a figura do pai.
O poder estava, essencialmente, na mão do pai e sua
transmissão fazia-se para o primogénito e/ou para outro homem ficando a mulher
excluída do poder. Estavam, assim, lançadas as bases do tipo de família
patriarcal que chegou até aos nossos dias.
Desse padrão desviava-se a família judaica, de matriz
matriarcal, mas em que que o homem igualmente predominava em termos de poder
real. No fundo tratava-se, mais, de assegurar a transmissão sanguínea segura.
O advento do feminismo e a emancipação sexual, laboral e
intelectual da mulher vieram pôr em causa esse predomínio do homem e criar as
condições para uma estrutura familiar democrática e participativa.
Simultaneamente começaram a ganhar corpo as famílias de
matriz homossexual, as monoparentais e as relações de facto que vieram disputar
espaço à família tradicional e eliminar uma estrutura inteiramente vertical.
Todos esses desenvolvimentos promoveram o enriquecimento do
conceito de família criando um conjunto de novas formas de viver sob o mesmo
tecto e dando expressão a formas de estar que sempre existiram mas que se
encontravam fortemente reprimidas.
No entanto os imperativos da vida moderna (ambos os
conjugues a trabalhar, o tamanho exíguo das habitações, os infantários, etc.)
carrearam outros factores de mudança que têm vindo a levar ao desmembramento da
família como a conhecíamos.
Potenciando o afastamento dos ascendentes e descendentes,
numa escala nunca vista, que se pode medir bem pela proliferação de casas de
idosos que dizem bem da incapacidade da família assegurar o bem-estar e a
humanização dos seus membros.
Os idosos estiolam em lares e as crianças crescem em
infantários.
Chegou, talvez, a altura de meditar profundamente em
todos estes temas e criar compromissos que dêem espaço à diferença e aos
condicionalismos da vida urbana mas que potenciem o interface de afectos e
entreajuda que continuam a ser essenciais à nossa sobrevivência plena.
Um núcleo familiar, forte e solidário, continua a não ter
substituto conhecido nas nossas vidas. Os laços directos de sangue continuam a
conferir uma segurança e um apoio sem paralelo.
A família tradicional, repressiva, dominadora e – tantas
vezes - castradora deixou de ter razão de ser. Mas em seu lugar não pode ficar
o vazio, a indiferença e, mesmo, o desamor.
Munidos das novas liberdades e cientes das novas
dificuldades teremos que procurar, também, novas maneiras de preservar o
essencial da família sob pena de nos desagregarmos comunitariamente.
O novo mundo tem que, necessariamente, dar lugar a uma
nova família.
PEDRO DAMASCENO