domingo, junho 06, 2004

Uma bofetada sem mão

Uma bofetada sem mão



No passado dia 2 um conceituado cientista inglês, o Dr. Malcom Clarke, inaugurou em S. João do Pico uma exposição que designou de “Cachalotes e Lulas”. Em 2 salas interiores, num terraço coberto e num espaço ao ar livre conseguiu montar uma exposição brilhante, quer no plano científico quer no plano estético.

Um evento que estará aberto ao público de segunda a sábado das 9,30 às 17,00 horas, entre Junho e Outubro. Sito na Rua do Porto, quase no ínicio, do lado do mar, para quem vem das Lajes do Pico. Uma visita obrigatória para quem quiser tomar contacto com a realidade dos cachalotes e das lulas.

No exterior, junto ao mar, foi construída uma estrutura estilizada feita em tubo que reproduz as dimensões do maior cacholote apanhado nos Açores e, através da qual, se pode ter uma ideia bem aproximada do tamanho de tal mamífero. Porventura uma ideia bem interessante para ter sido aproveitada para o monumento aos baleeiros e à sua saga!...

Porque os actores principais da baleação, quer se queira ou não, foram os cachalotes pese, embora, a coragem e o espírito de sacrifício dos baleeiros. Razão, também, porque esta exposição é preciosa: vem de uma maneira sucinta, mas de forma extremamente criativa e apelativa, trazer conhecimentos sobre os cetáceos que, apenas quem dedicou uma vida à investigação, pode dar.

O Pico passou a ter, para além do acervo dos baleeiros e da indústria baleeira, um conjunto inestimável de informações sobre a fisiologia, os hábitos, os stocks, etc dos cachalotes e lulas que vêm completar a oferta museológica já existente e, por isso, ajudar a constituir esta ilha como um destino priveligiado para quem estar em contacto com a temática baleeira.

Acontece, porém, que tudo isto ocorreu por iniciativa, exclusivamente, privada do Dr. Malcom Clarke que para tal utilizou a sua casa de habitação tendo custeado, também, todas as despesas de instalação, materiais, concepção, execução,etc.!... Uma obra cultural e científica de indiscutível valor que não conseguiu recolher nenhum tipo de apoio, por mais modesto que fosse!

Após uma iniciativa do Governo Regional destinada a assegurar a adaptação da Fábrica da Baleia das Lajes do Pico a Exposição Permanente do Cachalote que chegou, mesmo, a constar de orçamento da Região tudo parece ter ficado em águas de bacalhau. Não se sabendo se o assunto está ferido de morte ou se ainda existe alguma hipótese de vir a ser concretizado.

Ou seja nós - como comunidade - seja a nível pessoal, associativo, autárquico ou governamental não fomos capazes de, em tempo útil, dar os passos necessários para que a iniciativa não tivesse ficado apenas dependente de uma pessoa que, ainda por cima, se viu obrigado a ser pau para toda a obra. Dando de nós próprios uma imagem lamentável.

Mas ainda bem que há pessoas que, mesmo não sendo daqui, conseguem reunir energias e determinação para fazer aquilo que deveria ter sido uma obra pública emblemática. Uma lição de que, quem de direito, deverá retirar as respectivas ilações.

Uma verdadeira bofetada sem mão!



P E D R O D A M A S C E N O




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