quarta-feira, julho 07, 2004

Pornografia e Fundamentalismo


Pornografia e Fundamentalismo



De país conservador e tradicionalista, próprio do Estado Novo, Portugal oscilou, nalguns aspectos, para o outro extremo do pendulo. Hoje a pornografia é entre nós, como no resto da Europa, um fenómeno perfeitamente banal. E será dificíl fazer uma viagem através dos canais de televisão sem com ela topar, quase sempre, com material altamente escabroso.

E assim vão as coisas. Em vez de informação/esclarecimento sexual e planeamento familiar (que os sectores mais conservadores se apressam a condenar) estamos nós condenados a levar com pornografia barata e sórdida (que muitos conservadores se “esquecem “ de atacar). Pornografia que, ao fim e ao cabo e em termos práticos, se tornou na verdeira “educação” sexual dos nossos jovens.

Por razões que se prendem, no essencial, com questões comerciais. Pornografia vende e vende bem. Mesmo, e talvez sobretudo, para os sectores conservadores hipócritas que fazem um discurso público num sentido e que se comportam, privadamente, em sentido oposto. No fundo os herdeiros da mentalidade dos “ballet rose” da antiga senhora.

Uma sexualidade sã e verdadeiramente gratificante nada tem a ver com pornografia mas sim com hormonas, afectos e comunicação. E também com informação desinibida e correcta que nos venha dar um conhecimento adequado dos nossos corpos e da nossa fisiologia. Informação que nos ensine que sexo não é apenas uma maratona de posições, modalidades e parceiros.

Sendo uma força natural extremamente poderosa, o sexo tanto pode ser uma forma superior de gratificação afectiva como pode dar origem a perversões abomináveis como a tristemente célebre pedofilia. Perversões que são claramente estimuladas por uma pornografia que procura explorar todos os lados sórdidos da personalidade humana com o objectivo único de negócio.

Sensualidade e erotismo – facetas da sexualidade humana – nada têm a ver com pornografia. Pornografia que apenas mata a imaginação e os afectos banalizando, de forma grosseira, aquilo que os orientais sempre consideraram uma forma especial de comunicação entre seres humanos e de que cultivaram de formas extremamente requintadas.

Pornografia leva a que os sectores conservadores do mundo não ocidental exerçam um poder repressivo crescente sobre as mulheres: desde a ablação do clitóris até ao uso das “famosas” burcas. Uma reacção de pendulo no sentido oposto: quanto mais despimos as nossas mulheres e vulgarizámos o sexo mais eles tentam vestir as suas e reprimir o sexo.

De um lado a mulher ocidental totalmente banalizada e exposta, do outro a mulher oriental escondida e reprimida. Dois extremos de uma realidade que deveria, pela sua importância nas nossas vidas, centrar-se num ponto de equilíbrio entre liberdade e respeito e entre prazer e afecto.

Se é lamentável ver ser humanos reprimidos e despojados de direitos básicos não é menos lamentável vê-los objectos de mera recreação comercial sem quaisquer critérios estéticos ou de respeito.

Pornografia e fundamentalismo andam de mãos dadas.




P E D R O D A M A S C E N O



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