sexta-feira, setembro 16, 2005

Um gigante com pés de barro

O Protocolo de Quioto teria arruinado a nossa economia
George W. Bush


Um gigante com pés de barro


Não deixa de ser, tremendamente, irónico que sejam precisamente os Estados Unidos a sofrer um dos maiores desastres naturais dos tempos modernos, pouco tempo após uma afirmação tão arrogante, quão ignorante do seu presidente.

Não vem tanto ao caso se o furacão Katrina foi ou não uma consequência directa das mudanças climatéricas associadas aos problemas da camada de ozono. Vem muito mais ao caso perceber até que ponto a nação dita mais poderosa do mundo sucumbiu, impotente, perante um desastre natural.

De dum dia para o outro, a nação dos exércitos colossais e da tecnologia militar de ponta vê centenas de milhares de seus cidadãos sem acesso a bens de consumo essencias a berrarem em uníssono por socorro!

Uma manifestação pungente de sofrimento, desespero e miséria.

Nada mais do que uma catástrofe natural foi o necessário para pôr de joelhos a super potência. Em horas a natureza fez aquilo que guerra fria e o terrorismo islâmico não conseguiram em anos. O “eixo do mal”, como gosta de lhe chamar Bush, tem sido – em comparação – quase uma brincadeira.

Parece que, desta vez, os ambientalistas tinham razão. Provando, porventura, que não são, apenas, um grupo de radicais apostados em boicotar o desenvolvimento económico e o milagre capitalista. Tendo ficado claro que a sustentabilidade da economia está, indissoluvelmente, ligada ao ambiente.

Mesmo que a responsabilidade do furacão Katrina não seja – ao menos directamente – imputável à emissão de gases e ao buraco de ozono, não restam dúvidas que a natureza e o ambiente são realidades que não podemos menosprezar e, muito menos, ignorar.

E, como quase sempre acontece, foram os mais desprotegidos a pagar a maior factura. Eram eles que viviam nas zonas mais vulneráveis e eram eles que não dispunham nem de dinheiro nem dos meios para fugirem.

Todavia – e aqui os média aqui têm muita culpa – não é tempo para aproveitar para “molhar a sopa” nos americanos nem tão pouco para partir para manifestações primárias de anti-americanismo.

Os Estados Unidos e as inúmeras vítimas (sobretudo as mais carenciadas) deverão ser objecto da nossa simpatia e solidariedade. Independentemente de gostarmos ou não de George W. Bush ou das políticas expansionistas da América.

Mas é tempo de esperar que a opinião pública americana comece a ganhar consciência das suas próprias vulnerabilidades e a pôr em causa uma filosofia de vida assente num esbanjamento inaceitável de recursos.

O Estados Unidos têm, agora, pela frente desafios formidáveis. Não apenas para realojar as centenas de milhares de pessoas que perderam as suas casas mas para encontrar caminhos que lhes permitam refazer as suas vidas profissionais.

E, acima de tudo, aproveitar a oportunidade para combater, de raiz, os enormes problemas sociais e raciais que as zonas afectadas tinham. Tempos de crise que podem ser, também, excelentes oportunidades para encetar mudanças de fundo.

Para a reconstrução da América destruída terá que haver muito dinheiro e muitos recursos mas, principalmente, terá que haver muita criatividade e – acima de tudo – muito coração.


P E D R O D A M A S C E N O

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