sexta-feira, março 14, 2008

MORRER DESNECESSARIAMENTE

Acidentes de viação provocaram 10 mortes nas semana passada
Jornais 10.03.2008


MORRER DESNECESSÁRIAMENTE


Desde o início do ano (2008), os acidentes de viação causaram 105 mortos e 366 feridos graves. Um número astronómico para um país com uma pequena população e que já lida com graves problemas de desertificação.

Tanto assim que várias Câmaras – como por exemplo Vimioso – já atribuem subsídios por cada criança nascida no concelho. E nós a desperdiçar vidas, a torto e a direito, nas estradas!

Para além dos dramas humanos que essas mortes, súbitas e imprevistas, criam fica-se com a sensação de que de que todas leis e todos os meios estão longe de serem suficientes para resolver o problema.

Num tempo em que a medicina atinge, em muitas áreas, o estado da arte e se protesta por encerramento de urgências e maternidades fica-se perplexo perante tantas vidas desbaratadas nas estradas de Portugal.

Tirando situações, felizmente pouco frequentes, de calamidades naturais e outras anomalias afins, os acidentes decorrem por norma por culpa humana que vai desde a vulgar negligência, ao alcoolismo e a conduções completamente irresponsáveis.

O que, tudo somado, se cifra num elevado défice de sentido cívico e na incapacidade crónica de entender que o acidente não acontece apenas aos outros. Mas que resulta, habitualmente, de um conjunto complexo de azelhices, distracções, abusos, etc.

Pelo que fazer mais leis e pôr mais polícias na estrada ajuda mas não resolve o problema de fundo que é, eminentemente, cultural e civilizacional. Sendo a falta de boas maneiras e práticas sociais – que têm vindo sempre a decrescer – os grandes responsáveis.

Enquanto as pessoas se comportarem na estrada como se comportam na vida vamos continuar a ser vitimados em holocaustos de chapas esfaceladas. Tudo por causa de uma pressa absurda, de um ego ferido ou de uma falta de elementar bom senso.

Recentemente esteve exposta em Lisboa Bodies (Corpos), uma polémica colecção de corpos humanos mumificados e tratados com técnicas especiais que permitem ver, de forma muito explícita, quer a extraordinária complexidade do ser humano quer a sua fragilidade.

Devia ser obrigatória (e subsidiada pelo Estado) a visita a essa exposição – e o mesmo é dizer a visita ao nosso corpo – porque, talvez assim, viéssemos a despertar para o facto de estar, essencialmente, nas nossas mãos a sua preservação.

Não há Neurocirurgia ou Cirurgia Cardíaca que nos valha perante a irresponsabilidade com que usamos os nossos corpos e os riscos levianos a que os submetemos. Tudo em nome de um gozo imediato, de uma vaidade incontrolável ou de uma falta de sentido comunitário.

Hoje fui eu, amanhã poderás ser tu. Sem excepções.

É pena que se continue a morrer desnecessariamente quando tanto se investe na saúde e na qualidade de vida e quando tanto se luta para salvar vidas humanas atingidas por doenças terríveis e inevitáveis.



P E D R O D A M A S C E N O

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