sexta-feira, dezembro 31, 2010

PNB ou FNB?

PNB ou FNB ?


É de todos sabido o significado de PNB (Produto Nacional Bruto). Que é, sumariamente, a soma de bens e serviços produzidos pelos nacionais no país e no estrangeiro num dado período de tempo, normalmente um ano. Incluindo remessas de emigrantes e excluindo aquilo que os estrangeiros produzem nesse país.

Contudo, um obscuro e pequeno país dos Himalaias (entalado entre a China e a Índia) de 700 mil habitantes, de seu nome Butão, avalia a prestação do estado segundo o conceito de FNB (Felicidade nacional Bruta).

Sendo a FNB butanesa a soma da acumulação de vários índices como bem estar psicológico, ambiente, saúde, educação, cultura, nível de vida, utilização do tempo, actividades sociais boa governação. Rejeitando a lógica mercantil quando invade bens colectivos considerados intangíveis como a educação e a saúde.

O Butão é possivelmente, o único país que jamais transitou de um regime feudal de monarquia absoluta para uma monarquia parlamentar por iniciativa do próprio soberano que iniciou uma democratização que os seus próprios súbditos não procuravam!

Graças ao FNB o país tem hoje um quadro ambiental e cultural preservado com crescimento anual da ordem dos 7%. Conseguindo uma pronunciada queda do analfabetismo e um rápido aumento da esperança de vida ao nascer.

O actual rei Khesar, jovem e muito popular, inscreveu o FNB na constituição e, desse modo, introduziu a felicidade no âmago das políticas públicas. Criando uma comissão que avalia o impacto as políticas em função do bem estar colectivo.

Tudo isto sem alardes e, muito menos, sem chavões ditos colectivistas ditados por uma nomenclatura política instalada e mantida no poder pela força e pela repressão. De maioria budista o país tem procurado seguir um modelo de modernização e crescimento económico que não ponha radicalmente em causa os valores tradicionais mas que integre alguns bens da civilização ocidental.

Tendo conseguido um honroso 8º lugar na Carta Mundial da Felicidade publicada em 2006 pela Universidade de Leicester em que os primeiros lugares são ocupados por países da Europa do Norte. Feito notável para um obscuro reino asiático de poucos recursos localizado numa das zonas de maior pobreza do mundo.

Utopia? Talvez mas é bom constatar a existência e o exemplo de um país que, ao arrepio dos padrões habituais, nem se refugia numa ditadura sangrenta e demagógica nem se põe em bicos de pés para aceder, de pleno direito, ao “paraíso” do consumismo.

Embora admitindo a entrada de turistas o Butão coloca restrições sérias a um turismo de massas que venha delapidar os recursos naturais e pôr em causa um modelo de desenvolvimento que põe as pessoas e o seu bem estar e identidade no topo da agenda política.

O país optou por um turismo para segmentos elevados limitando o número de visitantes como forma de manter a sua identidade cultural aproveitando as mais valias trazidas por quem pode pagar e aprecia, com alguma reverência, um ambiente preservado e uma cultura autêntica.

O Butão é, certamente, uma gota de água no oceano. Mas uma que faz falta, como diria a Madre Teresa de Calcutá.

No mínimo, este despretensioso e humilde país asiático poderá tornar-se num caso de estudo para quem se preocupa com os valores da felicidade e do bem estar num cenário de preservação ambiental e cultural. Oxalá não se estrague e não se converta noutra Meca da fast food espiritual ou numa pequena América nos Himalaias.

É bom sonhar!


P E D R O D A M A S C E N O

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