sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Viver e morrer em Nova Iorque


Viver e morrer em Nova Iorque


Já passaram dias bastante para que se possa analisar com alguma serenidade o crime que ocorreu em Nova Iorque, perpetrado por um jovem aspirante a modelo sobre um maduro colunista social.

Assunto que ocupou as primeiras paginas do jornais durante semanas e que ainda continua continua a ser motivo de controvérsia matizada, em grande parte dos casos, por paixões desencontradas.

Mas, para além de tudo o que disse ou possa vir a dizer, tratou-se indiscutivelmente de um homicídio rodeado de extrema violência envolvendo pessoas aparentemente sem hábitos agressivos.

O que aconteceu, então, naquele distante quarto de hotel em Nova Iorque?

O que poderá ter levado um jovem de Cantanhede sem passado violento a cometer semelhante crime e o que levou um homem sofisticado e maduro de Lisboa a envolver-se com um puto provinciano?

Luxúria, carências afectivas, ambição desmedida, oportunismo, egoísmo, consumismo exacerbado, dinheiro fácil, exploração psicológica, vulnerabilidade emocional. Talvez tudo isso, num cenário de grande falta de valores.

Ter-se-á o rapaz “passado” perante uma pressão intolerável por parte do suposto protector? Terá havido drogas? É possível mas caberá aos investigadores e psicólogos/psiquiatras decidir.

O certo é que um jovem estragou a vida e um homem maduro perdeu a sua. Tudo porque o estranho mundo a que chegamos criou o “caldinho” indispensável para que coisas dessas aconteçam.

A futilidade e frivolidade da vida urbana moderna, frutos da falta de valores e do endeusamento do dinheiro e da “fama, criaram atalhos aonde deveria haver trabalho, talento, perseverança e resiliência.

Com a conivência das próprias famílias que talvez também esperassem algumas migalhas do banquete. Como diria o povo quando a esmola é grande o pobre desconfia. Mas isso era antigamente. Hoje contam, principalmente, as luzes da ribalta e os faz-de-conta.

Possível explicação para o que se passou e possível razão para explicar as manifestações de solidariedade a favor e contra da vítima e do matador transformando algo que deveria merecer uma reflexão séria e profunda em mais um número de circo mediático.

Ter-se tudo isto tornado noutra novela de cordel é o pior que podia ter acontecido. Carlos e Renato são, por razões diferentes, dois exemplos paradigmáticos dos tempos em que vivemos. Dos tempos em que 43 mulheres foram também assassinadas, em 2010 e em Portugal, por violência doméstica. Dos tempos em que um engenheiro de 65 anos executa a tiro, em frente da neta, um ex-genro advogado.

Faces diferentes da mesma moeda. O resto são detalhes.


PEDRO DAMASCENO

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