sexta-feira, maio 11, 2012

História de Leela

Historia de Leela
(O mais risível dos ridículos)


Leela ainda não nasceu mas já anda às voltas com a burocracia portuguesa e com ditames remanescentes da ditadura, do tempo em que quase era preciso pedir licença para ir à casa de banho.

Trinta e oito anos passados do 25 de Abril mais vinte e sete de adesão à Comunidade Europeia e mais não sei quantos de globalização ainda continuamos às voltas com provincianismos serôdios, discricionários e sobretudo, autoritários.

É o caso da “famosa” lista de nomes próprios autorizados e não autorizados e que, graças a Deus, já é possível consultar na página da Internet do Instituto dos Registos e Notariado. Dantes era um segredo fechado a sete chaves, cabalístico e acessível apenas a iniciados.

Existindo mesmo a Lei nº 33/99 de 18 de Maio (com as alterações do Decreto-Lei nº 232/2001, de 17 de Dezembro e do Decreto-Lei nº  194/2003, de 23 de Agosto) aonde se estipula que os nomes próprios devem respeitar a ortografia oficial. Ufa!!...

Talvez por isso é que na famigerada lista existem nomes como: Abdégano, Ailé, Chantal, Guendolina, Alicibiade, Anquita, Aradna, Blásia, Carin, Adrualdo, Adiel, Aniria, Deise, Abelámio, Anaicé, Kyara (não é gozo!). Kévim, etc.

Nomes que o bendito e teimoso do meu corrector ortográfico não reconheceu e que, indiscutivelmente, todos reconhecemos com respeitadores da ortografia oficial e lídimos exemplos da nossa cultura fonética e da nossa onomotopeia.

Razões para que os sábios (possivelmente alguns doutores) achem que uma menina se poderá chamar Larissa, Liberalina, Linzia, Lisdelia, Lutgarda, Luzinira, Luegi, Lucileine, Ludmila, Loredana. Mas nunca Leela.

Leela nunca. Lutgarda, Luegi e Kyara sim. Porque sim.

Leela iria pôr de rastos a nossa avoenga cultura que não tendo mais que fazer se dedica a chatear o cidadão, nem que para isso tenha que cair no mais risível dos ridículos e trata-lo como um atrasado mental sem senso sequer para escolher um nome para um filho.

O Salazarismo era isso mesmo: uma cultura opaca, cinzenta, paternalista, ignorante, petulante e, essencialmente, castradora. Custa ver que em 2012 persistem sinais inquietantes de que muito há ainda para mudar em Portugal.

Muitas vezes é nas pequenas coisas que se descobrem tiques autoritários que nos devem chamar a atenção para que o que passa atrás do palco é bem mais do que se passa em cena, como ensinava Shakespeare.

Leela é um melodioso nome sânscrito que simplesmente quer dizer alegria/diversão. Possivelmente a maneira como os pais querem saudar a chegada de um filha bem querida e já amada.

Mas o Estado Português simplesmente não deixa. Se lhe quiserem dar um nome excêntrico ou exótico mas respeitador da ortografia oficial então que lhe chamem, por exemplo, Zahara ou Yasmin.

Mais português do que isso não há.


P E D R O D A M A S C E N O

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