FACE
OCULTA
AS AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM
TURISTA ACIDENTAL NO REINO DO MICKEY MOUSE
Nos tempos de recessão e dificuldade
que já, claramente, se vivem seria de esperar uma adequada adaptação do governo
e dos agentes económicos.
Rigor e eficiência devem,
naturalmente, existir sempre numa sociedade que procura o progresso e o
crescimento. Mas esta verdade elementar é bem mais importante em sociedades com
as assimetrias e carências como a açoriana e, sobretudo, em época de
dificuldades acrescidas como a presente.
A autonomia, e o mesmo é dizer a
governação dos Açores pelos açorianos, depende em primeiro lugar destacado da
auto-suficiência orçamental do arquipélago. Os Açores têm que ter níveis de
conforto e bem-estar compatíveis com as receitas geradas na região.
Quando maior for o fosso entre o
dever e o haver, maior será a dependência em relação ao exterior e, o mesmo é
dizer, maior será o grau de submissão e subalternidade, seja em relação a
Lisboa ou a Bruxelas. Cada vez mais a autonomia tranquila será autonomia de
fachada, de dependência.
É bem sabido que a meta da plena
auto-suficiência é um objectivo muito difícil e de longo prazo. Mas é para esse objectivo que a sociedade
açoriana tem que se orientar, com determinação e força. Quanto mais alta for a
fasquia maior terá de ser o esforço
Os sinais do fim dos tempos das
vacas gordas estão aí, por todo o lado. O tempo das dotações generosas do
orçamento geral do estado e das contribuições chorudas dos americanos e
franceses acabou.
Pura e simplesmente acabou, sem
retorno.
Ficou à sociedade açoriana a tarefa,
crucial e urgente, de se organizar com trabalho, rigor e eficiência. Toda a
gente, desde o trabalhador por conta de outrem ao funcionário público, dos
agentes económicos aos membros o governo, tem de se empenhar num processo que é
urgente. Porque não há nenhum ente, superior e eminentemente bom, que em
desespero de causa nos venha salvar do dilúvio.
Ninguém pode viver acima das suas
posses por muito tempo. Ou dá em pedinte ou ladrão. Ou, então, põe a corda ao
pescoço. O resto são histórias da carochinha.
O crescimento económico é, por isso,
o grande desafio que se põe aos açorianos. E um crescimento económico
sustentado e robusto tem que ter por base opções claras e consensuais. Não pode
existir com o governo para um lado, os agentes económicos para o outro e os
trabalhadores para outro ainda.
Uma dessas opções parece ser, cada
vez mais, o turismo que se poderá transformar num pujante e estruturante sector
da economia açoriana.
Com níveis de poluição ainda baixos,
grandes belezas naturais e condições de segurança; os Açores poderão
constituir, se nesse sentido afincadamente trabalharem, um destino apetecido e
exclusivo para um segmento de mercado turístico europeu com alto poder de
compra e que procura novos destinos de qualidade.
Mas não será a vencer gato por lebre
que se chegará aonde quer que seja. O turista que interessa aos Açores não
pergunta quanto custa, exige qualidade. Qualidade que tem pouco a ver com luxo,
mas sim com serviço que terá que ser eficiente, empenhado e amável.
Por tudo isso assumem a maior
gravidade dois episódios que, há bem pouco tempo, sucederam na simpática e
acolhedora cidade da Horta.
Num sábado à noite um turista
acidental procura, cerca das 23 horas, local para pernoitar. Numa das mais
conhecidas residenciais da cidade encontra a recepcionista a namorar ao colo do
namorado (?). Solicitando quarto, é-lhe dito que é tarde e que os patrões não
gostam de alugar quartos àquela hora!
De rabo entre as pernas o nosso
turista procura a maior unidade hoteleira da terra, aonde um atabalhoado
recepcionista lhe diz que tem quartos mas que os «quartos não estão preparados»
e que não tem ninguém para os preparar. Ponto final, paragrafo.
Novamente, de rabo entre as pernas,
o malfadado turista acidental demanda, já com medo, a outra unidade de tutela
governamental mas consegue, finalmente, uma dormida. Escapou ao banco do
jardim, por uma unha negra.
Isto em Fevereiro de 1993 na cidade
da Horta.
Aventuras e desventuras dignas do
Reino do Mickey Mouse.
P
E D R O D A M A S C E N O
Sem comentários:
Enviar um comentário