FACE
OCULTA
Quando
uma velha cultura agoniza, a nova cultura é criada por gente que não tem medo
da insegurança
Rudolf Bahro
CRESCIMENTO ECONÓMICO E QUALIDADE DE
VIDA
O colapso do consumismo à escala
mundial, veio deixar o capitalismo sozinho. Sem o contraponto do velho
arqui-inimigo, o capitalismo tem, agora, que se voltar para si mesmo e
reflectir.
Terá que optar entre um capitalismo
essencialmente individualista e de curto prazo e um capitalismo de sucesso
colectivo e consenso e de longo prazo. De um lado os moneteiristas de
Reagon/Tachter e do outro o norte e centro da Europa.
Reflexão que terá muitas implicações
na administração Clinton que terá de encontrar o seu próprio caminho, numa
América dividida entre uma reduzida classe muito possidente e uma larga maioria
de trabalhadores muito proletarizados. Mais do que grande pátria das
oportunidades, a América tornou-se no país do totobola – para chegar ao topo só
acertando nos treze.
A lei do mais e mais, está cada vez
mais condenada. Apesar do grande número de pessoas e, sobretudo, de políticos
que acreditam no crescimento económico como um fim em si.
O crescimento económico sistemático
e sustentado implica, necessariamente, um aumento da produção e do consumo.
Quando mais coisas forem produzidas mais coisas terão de ser consumidas. Quanto
mais pessoas consumirem, quanto melhor; da mesma forma que quanto menos tempo
um bem de consumo durar, tanto melhor.
Para se atingirem esses objectivos,
os consumidores terão que ser manipulados para um ciclo de consumo e oferta,
simpático ou mesmo atraente. As pessoas deverão ser induzidas a uma
compreensão, uniforme e superficial, das suas necessidades pessoais e sociais.
É fundamental um mercado dócil e pouco exigente. Ao que poderá ajudar, de forma
significativa, uns pós de perlimpimpim, que estimulem a competição social e a
procura se status, através do consumo.
Numa sociedade massificada, de traça
essencialmente competitiva e consumista, pouco interessam os valores do
espírito ou da cultura. O cidadão é julgado pelo que possui e não pelo que é. O
espírito e a cultura só servem para preencher metros lineares de prateleiras ou
paredes vazias.
O consumo torna-se um fim, em si
próprio. Mesmo quando o mercado atinge a saturação o processo não pára. O
consumidor reina, mas urge perguntar quem manda nele quando a teia dourada do
capitalismo se aperta. O capitalismo depende da estimulação da procura para
prosperar e tem que criar novas necessidades para as poder satisfazer e, deste
modo, escorraçar o espectro do desemprego.
Contudo o crescimento não pode
progredir indefinidamente num planeta finito. Ou o crescimento abranda
substancialmente ou rebentamos com um planeta que tem recursos limitados, ainda
que grandes. As alternativas são, apenas, estas.
Os níveis de conforto ou mesmo luxo
(e o mesmo é dizer consumo) não podem ser indefinidamente elevados. De
contrário o nosso habitat estará irremediavelmente comprometido e com ele a
nossa qualidade de vida. A ligação do homem à natureza é um facto intrínseco à
própria condição humana e à paz não adianta iludi-lo. Aí estão as guerras, a
criminalidade e a miséria a atestá-lo.
O capitalismo terá que saber optar
por um equilíbrio entre a tecnologia e o crescimento económico e a qualidade de
vida.
Se assim não for avançaremos
iniludivelmente para a macro-economia da corrupção. «Quanto mais for fácil a alguns fazer fortuna sem trabalhar, mais os
seus êxitos serão apresentados como altos feito e mais numerosos serão os
candidatos à corrupção».
Crescimento económico e qualidade de
vida apenas são compatíveis até um determinado patamar. A partir daí apenas
divergem e cada vez maior será o fosso entre eles. A lógica do crescimento
contínuo terá que ceder lugar à lógica do bem estar comum. Os recursos do
planeta não se compadecem com a grande irresponsabilidade que ainda se vive na maior
parte das nações.
Os verdes e os ecologistas tiveram a
grande virtude de chamar a atenção, pela primeira vez, para estes problemas.
Contudo o problema é agora, de todos nós e nomeadamente das nações mais
industrializadas.
Crescer sim, mas preservar a qualidade
de vida e o mesmo é dizer preservar a nossa grande casa colectiva – a natureza.
P
E D R O D A M A S C E N O
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