FACE
OCULTA
«A corrupção é uma bola de neve: quando começa a rolar tem de aumentar»
Charles Colton
O PRESERVATIVO SOCIAL
A corrupção é um dos temas,
decididamente, em moda. Pese, embora, a sua provecta idade dado que é, pelo
menos, tão velha como a salve-rainha!
E isto por razões bem simples e que
têm a ver com os profundos desígnios e apetências do ser humano. Aonde há
homens e, simultaneamente, oportunidades de dinheiro ganhável sem esforço, aí
está o caldo entornado.
E a testar tudo isto aí estão os
escândalos de corrupção a acontecer bem fora do terceiro mundo e das ditas
repúblicas das bananas. Bem no centro da Europa para que não restem dúvidas, a
quem quer que seja, de que a corrupção não conhece raças ou culturas. Apenas se
exprime e executa de forma diferente.
Como também não poupa partidos,
ideologias ou mesmo religiões como está sobejamente provado. Até Cristo teve
que correr os vendilhões (corruptos) do templo e o Corão prescreve o corte de
mão aos ladrões.
O que talvez houvesse era, noutros
tempos e épocas, mais pudor e menos meios de comunicação social. Mas a doença
(?) é velha, congénita e não tem cura conhecida.
Mas deixar que o poder político e
económico se confundam a ponto de não se saber aonde começa um e acaba outro é
tão perigoso como fazer amor sem preservativo! Se este último pode levar à
sida, propriamente dita, o outro pode levar à ruína e ao caos que não deixam de
ser uma forma social de sida.
Embora não seja possível estabelecer
fronteiras rigorosas e definitivas entre o que é político e económico, não
deixa de ser exequível estabelecer regras do jogo, claras e simples. A política
e economia não podem estar de costas viradas – a história bem o tem
demonstrado. Mas também não querem estar amancebadas.
Os políticos e os agentes económicos
têm que se entender e cooperar, num clima de diálogo e consenso. Qualquer
política para ter sucesso necessita de se desenvolver em tecido económico
saudável bem como qualquer investimento para ter viabilidade precisa de
políticos, lúcidos e pragmáticos.
Fazer política sem dinheiro ou fazer
dinheiro sem políticos são duas vertentes da mesma utopia. Como também parece
não ser possível fazer qualquer uma dessas ou as duas sem corrupção.
Constatação que não sendo uma grande
alegria também não deveria ser uma grande tragédia. O que é, realmente,
importante não é erradicar em absoluto a corrupção, embora fosse um propósito
nobre, mas sim impedir que ela se torne num cancro, uma verdadeira sida social.
Porque a corrupção, uma vez liberta
de limites, pode levar ao total bloqueio de uma sociedade ou de um país. Os
exemplos abundam mas o Brasil e a Itália serão, porventura, dois casos,
particularmente, elucidativos. Duas sociedades com perfeita viabilidade mas que
chegaram a impasses terríveis.
A cultura da ostentação social e do
status é, possivelmente, a grande responsável pelo recrudescimento da
corrupção. As pessoas querem ser, cada vez, mais ricas e, cada vez, mais cedo.
Os jovens não querem esperar e, muito menos, fazerem grandes esforços para
ascenderem à opulência e à abundância até porque são esses os objectivos que
parecem atraí-los; curtir o mais possível no menor espaço de tempo.
Abaixo a cultura do sacrifício e da
miséria e do prémio no reino dos céus. Mas que a besta de barriga vazia não dê
lugar à besta de barriga sem medida.
A corrupção existe em todo lado e
vai existir sempre. O que é fundamental é não deixar: que ela se transforme
numa verdadeira doença social, altamente infecciosa.
Há que, rapidamente, inventar o
preservativo social.
P
E D R O D A M A S C E N O
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