FACE
OCULTA
A ARMADILHA DOS
GOLFINHOS
Embora a
malfadada reportagem sobre a caça (?) dos golfinhos nos Açores já tenha feito
correr muita tinta e levado à tomada de posições das mais variadas entidades,
nunca será demais reflectir serenamente sobre o assunto.
Por várias
razões. Desde logo porque se tratou de um trabalho que pretendia defender uma
causa de alto teor moral, depois porque foi apresentado na televisão estatal
que existe (ou devia existir) para garantir ao público informação isenta de
sensacionalismos baratos e finalmente porque se trata de um tema importante e
que a todos diz respeito.
E exactamente
porque o filme se arrogava a defender valores morais elevados (a defesa da vida
de seres vivos indefesos e inofensivos e do equilíbrio ecológico) desde logo era imperativo que o tema fosse tratado
como maior seriedade e isenção. A eventual bondade (?) dos objectivos nunca
poderia justificar meios menos correctos e/ou verdadeiros.
Por outro lado a
RTP sabia ou deveria saber que uma reportagem (?) como a que foi apresentada
iria ter uma grande repercussão negativa para o arquipélago quer em termos
nacionais quer internacionais. O que, desde logo, deveria ter implicado por
parte da RTP, dado o seu caracter oficial, o maior cuidado. A tendência natural
do público é para considerar a televisão estatal, ao fim e ao cabo paga
fortemente pelo bolço dos contribuintes, como uma fonte fidedigna e merecedora
de crédito.
Ora é um dado
adquirido que o tudo não passou de una cabala encenada com objectivos que não
se conhecem na sua total extensão mas que poderão ter a ver com pressões e
interesses internacionais menos límpidos, e que poderão até ter constituído uma
forma de chantagem sobre o Governo Regional e a Região.
Vários dos
intervenientes açorianos, se não a totalidade, foram induzidos em erro e
estimulados para participar em actos que podem ser considerados ilegais, ou
pelo menos, altamente irregulares. E quem fez a reportagem sabia isso muito
bem. E, mesmo assim, não tiveram qualquer
pejo em utilizar pessoas de boa fé e hospitaleiras. Sem atender aos
prejuízos e dissabores que isso poderia vir a causar.
Durante muitos
anos a caça e consumo de golfinhos foi uma prática perfeitamente legal nos
Açores. Em algumas ilhas a carne de toninha era mesmo considerada um petisco
especial, possivelmente como o consumo de cães ou de gatos na China! Uma
questão fundamental de hábito, se se preferir.
Depois da
proibição houve quem continuasse a caçar, ocasionalmente,
o golfinho. Possivelmente com o mesmo espírito prevaricador com que
respeitam os sinais de trânsito ou os limites de velocidade. Infracções que têm
de ser vistas num contexto cultural em que o golfinho, com todo o respeito, é
tido um peixe como outro qualquer, sem qualquer outro privilégio especial.
De modo que a fazer uma reportagem sobre o
tema teria que ter havido por parte dos autores a preocupação de ter filmado
situações autênticas e não ter encenado farsas como foi o caso do restaurante
ou mesmo da própria morte da toninha. Ou a tê-lo deveriam ter, antecipadamente,
avisado que se tratava de cenas encenadas e montadas para tentar reproduzir o
que os autores imaginaram que fosse a prática comum nos Açores.
A reportagem
apresentada na RTP foi uma farsa ignóbil que não veio beneficiar nenhuma causa
nobre.
A caça à toninha
nos Açores é, hoje em dia, uma prática clandestina e em vias de extinção. Tudo
o resto são mentiras descaradas de que não respeita nada, nem a dignidade das
pessoas nem a idiossincrasia açoriana.
Não está,
minimamente, em causa a ideia de que a caça do golfinho deva ser apoiada ou
defendida. Nada disso, o golfinho é um mamífero simpático e amigável, nosso
companheiro de rota nessa complexa jornada que é a vida e que connosco
partilha, de forma positiva, um habitat imprescindível à nossa própria
existência.
O que está em
causa é um mau jornalismo e uma profunda falta de ética profissional e humana.
P E D R O D A M A S C E N O
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