FACE
OCULTA
«A história sugere que o capitalismo é uma
condição para a liberdade política. Não é, claramente, uma condição
suficiente.»
Milion Friedman
OS DILEMAS DO CAPITALISMO MODERNO
As súbitas (?) e graves dificuldades
com que se defronta o capitalismo, à escala mundial, revelam bem as suas
fragilidades estruturais. Não só ninguém previu o actual estado de coisas como
menos a sua severidade.
Uma Europa que se prepara para um
casamento entre estados membros, com pompa e circunstância, vê-se, de um dia
para o outro, com o espectro do desemprego galopante e a perspectiva de uma
comunidade a várias velocidades.
De uma penada, o SME (Sistema
Monetário Europeu) leva um golpe mortal e o futuro, pelo menos a médio prazo,
da UEM (União Económica e Monetária) está claramente em causa. O que ontem
parecia inevitável e ao virar da esquina está, hoje, quase no campo da utopia.
Objectivos considerados fundamentais
pelos europeus para o seu desenvolvimento e equilíbrio entram, assim em
hibernação. Tão somente porque as economias mundial e europeia entraram numa
recessão grave, impedindo a concretização de metas ainda há um ano consideradas
realistas.
Os próprios gigantes (Japão, USA e
Alemanha) tremem.
Arrumado o papão comunista, ficou o
capitalismo a braços com os seus reais problemas e que não são poucos nem
pequenos (desemprego, baixa do poder de compra e mesmo fome, ambiente, racismo,
xenofobia, guerras, etc.). E sobretudo começa a entrar em crise grave a menina
dos olhos das democracias europeias avançadas: o estado providência. A própria Alemanha começa a elencar a redução
de benefícios dos seus cidadãos.
Depois da euforia moneteirista de
Reagan e Thacher, chegaram as respectivas facturas que não serão fáceis de
pagar. Sobretudo porque se criou, entretanto, uma geração que apenas acredita
no sucesso económico fulminante e que não quer esperar e muito menos apertar o
cinto. Conquistaram-na para a religião do cifrão e, como todas as religiões,
tem a força do dogma.
Falhadas as receitas tradicionais
para a crise (aumento de impostos, diminuição do aumento de salários, redução
de benefícios sociais e do consumo) num mundo que cada vez mais, e felizmente
toma consciência da natureza limitada dos recurso naturais de que dispomos,
novas perspectivas terão, forçosamente, que surgir.
Perspectivas que terão de ter como
plano de fundo uma exaustiva reflexão política sobre os objectivos finais que
se se pretendem e a partir daí sobre os meios de os atingir.
Na actual conjuntura já é lícito
afirmar que a crise tem carácter estrutural e não deriva, apena, de acidentes
de percurso ou de má gestão do partido X ou Y. Por muito incompetente que seja
o ministro A ou B.
E, possivelmente, dever-se-á começar
por inventariar os recursos naturais disponíveis. De nada servirá planear um
crescimento económico que seja incompatível e com a qualidade de vida no
planeta.
A seguir será importante pensar em
termos de população mundial global. Se os dez milhões de portugueses pouco
contam em termos ambientais que dizer dos milhares e milhões de chineses? O
planeamento deverá basear-se em números à escala mundial. De que valerá um
punhado de europeus prósperos face aos milhares de esfomeados do sul?
Apenas depois será fundamental
definir o modelo social a atingir. Modelo que terá de ter em linha de conta as
lições da protecção social excessiva das democracias europeias do norte, por um
lado, e os excessos liberais dos Reagan-thatcheristas, por outro.
Contudo um cenário parece
inevitável: a nova ordem mundial e nacional terá que ser mais equilibrada. As
disparidades mundiais, nacionais e regionais terão que ser cada vez menores bem
como as diferenças dentro de cada país.
Ao longo cortejo de direitos dos
mais variados teores há que juntar, também, os respectivos deveres. Um aumento
de direitos tem que ser, necessariamente, acompanhado de um aumento de deveres.
A condição essencial para a paz e o
progresso é o equilíbrio. Enquanto perdurarem desequilíbrios significativos
entre as nações e dentro destas entre cidadãos será sempre difícil manter um
progresso estável.
Equilíbrio que não é sinónimo de
igualitarismo basista e acrítico mas sim de igualdades de oportunidades para
todos. Único princípio que poderá nortear, com sucesso, uma sociedade no
dealbar do século 21.
P
E D R O D A M A S C E N O
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