FACE
OCULTA
UM CARTÃO DE VISITA AMARROTADO
Quer se queira quer não, é um facto
consumado que a grande porta de entradas e saídas do Pico é o porto da
Madalena.
Com um aeroporto que teima em ser um
simples apeadeiro aéreo ou mesmo uma passagem de nível aérea sem guarda, tal é
a sua falta de importância e capacidade para responder às necessidades da ilha,
as ligações marítimas com a Horta continuam a ser cruciais.
Não que não seja importante manter
uma ligação regular, constante e fecunda entre as duas ilhas. O Pico e o Faial
têm, fatalmente, que se entender e que aprofundar os laços que as unem,
debatendo os interesses comuns e aligeirando as velhas tricas bairristas.
O que não é, nem saudável nem
desejável, é que um número crescente de picoenses ou pessoas que demandam o
Pico se vejam forçadas a recorrer, cada vez mais, ao Faial para conseguirem
entrar e sair desta ilha. De facto, é cada vez maior o número de pessoas do
Pico ou que para cá se dirigem que se vêem literalmente obrigadas a usar o
aeroporto da Horta para fugirem ao martírio do aeroporto da Terceira e às
frustrações dos cancelamentos de voos para o Pico.
O aeroporto do Pico tem estatuto
menor, quer no que diz respeito às condições de operacionalidade quer em termos
de prioridade de utilização. E pronto!
Da mesma forma, para um grande
número de cabeças e canal entre ilhas Pico e Faial tem um sentido privilegiado.
Para essas pessoas as distâncias e as dificuldades das travessias são, em
termos psicológicos, diferentes. Ou o mesmo é dizer: uma coisa é ir do Pico
para o Faial e outra do Faial para o Pico!
De resto basta reparar num pequeno
pormenor: quantos faialenses ou visitantes do Faial atravessam o canal
atafulhados de malas, malinhas, embrulhos ou encomendas? Quantos em comparação
com picoenses ou seus visitantes? E que diabo, com o devido respeito e sem
complexos barristas ou outros, Pico é Pico e Faial é Faial.
De modo que o canal e respectivas
estruturas em terra continuam a ser, quer se queira ou não, a ser a grande
estrada do Pico. Por ali se entra e sai, por ali se é obrigado a ir ao médico,
por ali se tem de ir se não há tempo a perder com malfadadas voltas e
reviravoltas do aeroporto do Pico.
De modo que tudo isto levaria a crer
que, pelo menos a nível do canal, as
coisas merecessem uma atenção especial das várias entidades e autoridade
intervenientes. Seria de esperar que, para além de terminais adequadamente
dimensionados para o tráfego e com um mínimo de condições (sanitários, área
abrigada, lugares sentados, telefones, carros de bagagens, etc.), houvesse uma
grande preocupação na organização e gestão das travessias.
Coisas que até têm pouco a ver com
dinheiro: compatibilização dos horários das lanchas com os dos aviões
nomeadamente da TAP e com as necessidades das pessoas nos dias que correm (não
lembra ao diabo ter um horário de Inverno que termina às quatro da tarde, por
exemplo), organização das chegadas e partidas em termos civilizados com
definição de áreas delimitadas por protecções amovíveis, orientação da
acomodação dos passageiros e da saída do barco pela tripulação, organização e
tratamentos adequado das bagagens, etc., etc...
Já ninguém pode ver, nos dias que
passam, a bagunça das lanchas do Pico: pessoas umas em cima das outras,
atropelando-se, acotovelando-se, arrastando malas às costas por entre multidões
que não se afastam. Ainda por cima para viagens que não estão, minimamente
pensadas para servir os interesses dos utentes mas que se baseiam em tradições
e conceitos totalmente obsoletos.
As lanchas do canal são ou não um
serviço público?
Quando deixará a travessia do canal
de ser apenas mote para poetas e intervenções parlamentares e se irá
transformar numa questão concreta e plenamente assumida pelo governo, pelas
autarquias e demais entidades.
O canal foi palco de actos de grande
abnegação e coragem e ferramenta de grandes homens do Pico. Não os esquecemos e
rendemos-lhes homenagem sentida.
Mas até quando vai continuar a
balda?
Talvez o canal seja um cartão de
visita destas ilhas. Tem grandeza e beleza para isso. Mas não passa, ainda, de
um cartão amarrotado e bem.
P
E D R O D A M A S C E N O
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