FACE OCULTA
«Embora só alguns estejam aptos a gizar
uma política, todos são capazes de a julgar»
Péricles de Atenas
UM TIRO NO PÉ OU UM
GOLPE DE MESTRE?
O resultado das
eleições autárquicas nos Açores foi uma surpresa para toda a gente. Nunca o PSD
imaginou uma vitória tão folgada nem o PS uma derrota tão pesada.
O mais previsível era um resultado
equivalente ao de 1989 com algumas alterações de câmaras, aqui e ali, mas com
uma distribuição de forças semelhante.
As dificuldades decorrentes da crise
conjugadas com uma governação baça e incapaz de encontrar soluções originais
para os problemas regionais, o desgaste de tantos anos de poder e de uma gestão
autárquica socialista globalmente adequada não faziam prever um suplemento de
legitimidade popular para o partido do governo. Bem pelo contrário, isso sim,
uma consolidação das posições do PS, sobretudo a nível do Pico e S. Miguel.
Tirando os casos de Lajes do Pico e
Praia da Vitória que, por condicionalismos específicos, poderia voltar para a
órbita do poder, era de esperar, como de resto sucedeu no continente, um
resultado final francamente positivo para a oposição.
Nem o governo regional foi tão
brilhante e eficaz ao longo destes últimos quatro anos nem a oposição
socialista, apesar de tudo, tão desastrosa. Houve, inclusive, câmaras que
passaram para o PSD e que estavam a ter gestões perfeitamente positivas como
foi o caso de Madalena do Pico e Ponta Delgada.
O que se passou então? Porque razão
decidiu o eleitorado colocar, novamente, quase todos os ovos no mesmo cesto?
Porque decidiram os picoenses, por exemplo, passar toda q gestão autárquica
para o partido do poder, numa ilha tradicionalmente desgostosa com a falta de
benesses por parte do governo?
Sabido que, frequentemente, as
eleições autárquicas são utilizadas pelos eleitores para mostrar cartão amarelo
ao governo tudo parece indicar que os eleitores açorianos quiseram exprimir
apoio ao governo. As discrepâncias e contradições verificadas em muitos sítios
levam à conclusão que o voto nestas autárquicas foi, essencialmente, um voto na
camisola. O que, obviamente, quer dizer, em termos objectivos, que os açorianos
continuam claramente satisfeitos com a política do PSD.
Se as eleições tivessem sido legislativas
ainda se poderia argumentar que a vitória social democrata tinha sido mais por
demérito da oposição do que por mérito do poder. Mas tendo estas sido eleições
e tendo da oposição em muitos sítios bons candidatos que perderam
inesperadamente, mesmo para as próprias hostes laranjas, tal raciocínio não é
possível.
O único raciocínio possível é que o
modelo político protagonizado pelo PSD/Mota Amaral/Natalino Viveiros ainda
continua a agradar, apesar de todas as críticas mesmo de dentro do partido, à
maioria dos açorianos que continuam a achar que é neste modelo que poderão
encontrar mais benesses e vantagens. Embora o PSD tenha contado com meios de
propaganda eleitoral mais sofisticados e abundantes e com própria máquina do
governo, o mesmo se verificou no continente e os resultados foram completamente
diferentes.
Naturalmente que o partido do
governo ao conseguir esta consolidação eleitoral passou a ter, se ainda é
possível, responsabilidades acrescidas na condição dos destinos açorianos. Têm,
quase em exclusivo, a faca e o queijo na mão.
Os açorianos têm, por outro lado,
aquilo que escolheram: um cenário que potencializa a eternização de uma força
política no poder e que deixa pouca vontade de participação política a quem
protagonizou a oposição.
Será que os açorianos ao terem
votado assim não se aperceberam de todas a implicações políticas que o seu acto
iria trazer e de algum modo deram um tiro no próprio pé ou sabiam muito bem o
que estavam a fazer na defesa dos seus interesses pessoais e imediatos e assim
deram um golpe de mestre. Terão os açorianos perdido alguma da sua proverbial
manha ou terão mesmo uma alma laranja?
P E D R O D A M A S C E N O
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