quarta-feira, fevereiro 22, 1995

O render da guarda

O render da guarda


O congresso nacional do PSD que agora terminou, encerrou, indiscutivel­mente, mais um ciclo da vida política portuguesa. Porque constituiu a resposta partidária ao fim do mito da maioria absoluta (que, agora, já ninguém no PSD reivindica com voz grossa) e gerou uma liderança extremamente fragilizada.

Vencedor claro apenas parece ter sido MotaArnaral que viu os ”seus”quarenta e tal por cento de votos adquirirem uma mais valia crucial para a lista vencedora. Valia imprescindível à vitória de Fernando Nogueira que fica, assim, com um pri­meiro vice presidente que lhe irá cobrar essa mais valia de imediato como ficou claro nas declarações que o presidente do governo regional produziu mesmo em cima do acontecimento.

Situação que, contudo, não produzi­rá efeitos se o PSD não ganhar as legis­lativas já que uma derrota dessas, a concretizar-se, não só porá esse partido fora da órbita do poder como porá fim à carreira política de Nogueira. A margem de votos foi de tal maneira escassa - sobretudo tendo em conta que os nogueiristas falavam em 60% dos votos e que a lista vencedora iniciou a corrida para o poder com o apoio generalizado do aparelho do partido - que ou o actual líder consolida o seu poder através de urna vitória nas legislativas ou fica sem condições objectivas para liderar o par­tido.

A chegada ao poder da nova equipa dirigente fez-se por um triz, foi uma vitória com sabor a derrota.

Para Fernando Nogueira as próxi­mas legislativas serão o tudo ou o nada. Ou consolida a sua liderança com uma vitória clara nas legislativas ou seus adversários internos - que são muitos e com muito peso -não lhe darão qualquer hipótese de sobrevivência pesem, embo­ra, todos os discursos de unidade que foram proferidos no encerramento do congresso. 0 ministro da defesa recebeu um verdadeiro presente envenenado: uma moratória que durará até às próximas eleições, uma verdadeira caminhada em cima de brasas quentes.

E vencer as próximas legislativas não vai ser tarefa nada fácil para o PSD do Nogueira.

Tem atrás de si um partido que ainda vive uma crise de orfandade que só po­derá ser, eventualmente, debelada se Cavaco Silva for candidato às presidenciais e este não irá certamente tomar uma posição sobre o assunto antes de saber como o eleitorado se vai comportar. Porque uma vitória legislativa dos social democratas poderá criar um élan de vitórias imbatível para Cavaco alcançar Belém mas uma derrota poderá consti­tuir um factor desmobilizador decisivo para um homem que não está habituado a perder. Se for, aliás, esse o seu desejo o que ninguém, verdadeiramente, sabe.

Portanto Nogueira poderá contar, fundamentalmente, consigo próprio e com os seus colaboradores mais chegados. Os outros não irão, obviamente, fazer activamente força contra mas irão adoptar uma posição passiva porque sabem que se o actual líder não passar este teste as suas hipóteses do ascender ao poder irão ficar extremamente reduzidas para os próximos anos e a política é, essencialmente, m jogo do poder cm regras muito fratricidas.

E como Mota Amaral está no mesmo barco poderá aplicar-se-lhe a mesma lógica: ou a equipa de que faz parte ganha as legislativas e, então sim, po­derá tirar os dividendos políticos do to­toloto em que se meteu ou, de outro modo ficará, também, em maus lençóis par­tidários.

E como se tudo isto não bastasse, os actuais lideres do partido do governo debatem-se com outro dilema ou defen­der eleições antecipadas e, desse modo, não terão tempo para tomar conta a sério do partido, para definir uma linha es­tratégica reflectida e para não decidirem em cima do joelho as listas de deputados o que, em virtude do equilíbrio de forças, não será tarefa fácil; ou então defendem as eleições na data normal e continuarão a sofrer o desgaste do um governo que já não passa senão de uma amálgama de pessoas com ideias diferentes, publicamente assumidas, capitaneados por um ex-líder que se desiludiu, pelo menos, do poder executivo.

Contudo se o PSD ganhar as próximas eleições e os votos dos Açores se demonstrarem, mais urna vez, imprescindíveis para a formação do uma maioria, ainda que relativa, Mota Amaral ficará imparável, quem sabem se para Belém?

PEDRO DAMASCENO

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