O render da guarda
O congresso nacional do PSD que agora terminou, encerrou, indiscutivelmente, mais um ciclo da vida política portuguesa. Porque constituiu a resposta partidária ao fim do mito da maioria absoluta (que, agora, já ninguém no PSD reivindica com voz grossa) e gerou uma liderança extremamente fragilizada.
Vencedor claro apenas parece ter sido MotaArnaral que viu os ”seus”quarenta e tal por cento de votos adquirirem uma mais valia crucial para a lista vencedora. Valia imprescindível à vitória de Fernando Nogueira que fica, assim, com um primeiro vice presidente que lhe irá cobrar essa mais valia de imediato como ficou claro nas declarações que o presidente do governo regional produziu mesmo em cima do acontecimento.
Situação que, contudo, não produzirá efeitos se o PSD não ganhar as legislativas já que uma derrota dessas, a concretizar-se, não só porá esse partido fora da órbita do poder como porá fim à carreira política de Nogueira. A margem de votos foi de tal maneira escassa - sobretudo tendo em conta que os nogueiristas falavam em 60% dos votos e que a lista vencedora iniciou a corrida para o poder com o apoio generalizado do aparelho do partido - que ou o actual líder consolida o seu poder através de urna vitória nas legislativas ou fica sem condições objectivas para liderar o partido.
A chegada ao poder da nova equipa dirigente fez-se por um triz, foi uma vitória com sabor a derrota.
Para Fernando Nogueira as próximas legislativas serão o tudo ou o nada. Ou consolida a sua liderança com uma vitória clara nas legislativas ou seus adversários internos - que são muitos e com muito peso -não lhe darão qualquer hipótese de sobrevivência pesem, embora, todos os discursos de unidade que foram proferidos no encerramento do congresso. 0 ministro da defesa recebeu um verdadeiro presente envenenado: uma moratória que durará até às próximas eleições, uma verdadeira caminhada em cima de brasas quentes.
E vencer as próximas legislativas não vai ser tarefa nada fácil para o PSD do Nogueira.
Tem atrás de si um partido que ainda vive uma crise de orfandade que só poderá ser, eventualmente, debelada se Cavaco Silva for candidato às presidenciais e este não irá certamente tomar uma posição sobre o assunto antes de saber como o eleitorado se vai comportar. Porque uma vitória legislativa dos social democratas poderá criar um élan de vitórias imbatível para Cavaco alcançar Belém mas uma derrota poderá constituir um factor desmobilizador decisivo para um homem que não está habituado a perder. Se for, aliás, esse o seu desejo o que ninguém, verdadeiramente, sabe.
Portanto Nogueira poderá contar, fundamentalmente, consigo próprio e com os seus colaboradores mais chegados. Os outros não irão, obviamente, fazer activamente força contra mas irão adoptar uma posição passiva porque sabem que se o actual líder não passar este teste as suas hipóteses do ascender ao poder irão ficar extremamente reduzidas para os próximos anos e a política é, essencialmente, m jogo do poder cm regras muito fratricidas.
E como Mota Amaral está no mesmo barco poderá aplicar-se-lhe a mesma lógica: ou a equipa de que faz parte ganha as legislativas e, então sim, poderá tirar os dividendos políticos do totoloto em que se meteu ou, de outro modo ficará, também, em maus lençóis partidários.
E como se tudo isto não bastasse, os actuais lideres do partido do governo debatem-se com outro dilema ou defender eleições antecipadas e, desse modo, não terão tempo para tomar conta a sério do partido, para definir uma linha estratégica reflectida e para não decidirem em cima do joelho as listas de deputados o que, em virtude do equilíbrio de forças, não será tarefa fácil; ou então defendem as eleições na data normal e continuarão a sofrer o desgaste do um governo que já não passa senão de uma amálgama de pessoas com ideias diferentes, publicamente assumidas, capitaneados por um ex-líder que se desiludiu, pelo menos, do poder executivo.
Contudo se o PSD ganhar as próximas eleições e os votos dos Açores se demonstrarem, mais urna vez, imprescindíveis para a formação do uma maioria, ainda que relativa, Mota Amaral ficará imparável, quem sabem se para Belém?
PEDRO DAMASCENO
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