FACE
OCULTA
SERÁ A VACA SAGRADA?
Temos sido, nos últimos tempos,
bombardeados com notícias provenientes de Inglaterra e referentes à oposição
que naquele país tem merecido, por parte de grupos ligados à protecção dos
animais, o transporte de gado vivo.
Posteriormente fomos informados da
existência de uma directiva comunitária que se destina a abolir aquele tipo de
transporte no espaço europeu. Directiva que, de imediato, provocou reacções de
grande preocupação por parte de sectores regionais ligados à lavoura, sabido o
grande número de vacas que são enviadas, vivas, para o continente com destino
ao abate.
Embora sejam perfeitamente
questionáveis os exageros de grupos ecologistas, verdes e similares que
defendendo causas, à partida justas, se embrenham em manifestações
fundamentalistas e pouco realistas; nunca é demais realçar a importância do
equilíbrio ecológico e o direito à existência e sobrevivência de mais ínfima
partícula da natureza, viva ou não.
O homem, sem que ninguém o tivesse
mandatado para isso, arrogou-se em senhor do universo decidindo quem morre ou
quem vive ou então- tratando-se de matéria viva – o que desaparece ou
permanece. Ignorando, na maior parte dos casos, que está a alterar o seu
próprio habitat, o seu ecossistema, as suas próprias e imprescindíveis razões
de vida. E é por essas e por outras que o Pico, e os Açores, ainda têm um valor
inestimável. Ainda então, digamos assim, mais perto de Deus ou, se preferirem,
da natureza intocada.
O
homem é, indiscutivelmente, o maior depredador da terra. Não olha a nada nem a ninguém para
atingir os seus fins que, tantas vezes, são bem mesquinhos e egoístas.
Invariavelmente em nome de um progresso que, mais tarde ou mais cedo, se
transforma num tiro pela culatra: por um lado obtém níveis de conforto (?) e
bens materiais cada vez maiores mas por outro vai perdendo qualidade e vida ao
transformar a selva das florestas tropicais em selvas de betão.
De modo que tem decidido, ao longo
da história, que é o rei e senhor absoluto de tudo isso que nos rodeia. E que a
sobrevivência de tudo o testo, incluindo os seus próprios semelhantes (veja-se
o holocausto, o Ruanda, os conflitos da Rússia e da Bósnia), depende da sua
soberana vontade.
Mas pergunta-se: porque razão tem a
vida da mais humilde planta ou do mais pequeno animal menos importância que a
vida humana? Apenas pelo facto de o homem ser mais forte?
Não vamos, naturalmente, cair noutro
tipo de exageros apregoados um outro tipo de fundamentalismo. É lícito que o
homem abata animais, utilize plantas e remova mas apena e enquanto isso
for imprescindível à sua existência, à semelhança do que acontece com os
restantes seres vivos. Só assim conseguiremos manter o equilíbrio da natureza
que é imprescindível à nossa sobrevivência integral e não apenas à sobrevivência
de uma civilização afogada em frustrações, crime e comprimidos. Porque os
grandes com que a humanidade se debate têm tudo a ver com o desrespeito total
que mantemos pelo equilíbrio deste depauperado planeta em que vivemos.
Mas perguntar-me-ão: afinal que é
que isso tem a ver com o transporte das vacas açorianas para Lisboa? Tem tudo a
ver. Porque as vacas são seres vivos, embora tendo quatro patas e não falando
ou pensando (?), e fazem parte do nosso sistema. Não fomos nós que inventamos a
vaca ao contrário do carro ou da bicicleta.
De modo que é lícito e compreensível
que os agricultores criem as suas vacas porque são uma condição importante para
a sua sobrevivência e que as exportem para Lisboa mas é igualmente lícito que
as pessoas percebam que esse envio é feito em condições deploráveis para
animais que são arrancados do seu habitat natural e enviados com destino a
abate.
Por conseguinte, começar a criar
condições para que o abate seja local e se faça com menor sofrimento para os
animais é um imperativo de ma sociedade civilizada e cuja iniciativa deverá
caber, em primeira mão, ao Governo que deve criar as condições para que isso
seja possível. Tanto mais que, embora seja possível adiar por alguns anos (?) a
aplicação da directiva à Região, a sua aplicação futura será, e bem,
inevitável. É preciso não confundir os interesses legítimos dos lavradores com
barbaridades desnecessárias.
A vaca não é sagrada mas é um animal
que, como qualquer outro, deve ser respeitada, que mais não seja porque
proporciona o pão para a boca de muita gente.
P
E D R O D A M A S C E N O
Sem comentários:
Enviar um comentário