CRÓNICA SOBRE O BEM COMER
Nestes tempos de “come-come e bebe-bebe” em que se perde, cada vez mais, a noção de refeição é estimulante reflectir um pouco sobre essa actividade imemorial que é o comer e beber.
Comer e beber são, antes de tudo, necessidades fundamentais da vida. Tão fundamentais que no advento do homem eram, mesmo, actividade principal. Os nossos antepassados mais longínquos passavam, possivelmente, a maior parte do seu tempo à procura dos imprescindíveis alimentos.
De lá até hoje - sociedade de consumo – passamos por muitas fases: pela fome pura e simples, pela escassez, pelos ciclos das estações e, sobretudo, pela alimentação remediada, fruto de muita criatividade e improvisação.
Até chegarmos a hoje, a sociedade da super abundância sem ciclos, com as “alternativas permanentemente oferecidas!. As novidades próprias das diferentes estações desapareceram, havendo sempre de tudo, todo o ano.
Os produtos caseiros, rústicos, desiguais são, obsessivamente substituídos pela norma, pela estandardização, pela embalagem estanque, pela assepsia. Exige-se “pureza”, certificado de origem, rotulo, etc. Pede-se pão branco, arroz branco e açúcar branco – perde-se a broa, o pão caseiro, o arroz com casacas e impurezas à mistura mas mais perto da realidade.
Solitário, estressado e inseguro o homem moderno devora e não come. Consoem produtos alimentares inventados para lhe captarem o apetite desmesurado e compensador das suas frustrações diárias. Como disse um médico ilustre “o come-come e o bebe-bebe triunfam enquanto morre a refeição”!
O prazer da comunhão à mesa, saboreando refeições confeccionadas com autenticidade e cuidado são substituídas por actos solitários de devorar “hamburgers”, pizzas, batatas pre fritas, croassãs etc possivelmente com música de furar os tímpanos.
Assim comer, como condição indispensável de vida, transforma-se em comer como risco de vida com a obesidade, a diabetes a crescer em flecha. Enterrou-se a “slow food” e deu-se lugar à “fast food”.
Os meus votos para esta, necessariamente breve, crónica é que nós açorianos – porque ainda estamos a tempo – consigamos parar com esta corrida para o sofrimento e a doença e retomemos os nossos hábitos ainda bem próximos da refeição comungada e geradora de saúde e bem estar.
Para isso há que tirar tempo para cozinhar e para comer, retomado tantas práticas que perdemos quando nos deparamos com as ofertas estonteantes dos super e hipermercados que nos modelam os nossos próprios desejos a uma lógica de mercado.
Vivam as nossas “velhas” refeições em torno de uma mesa de família confeccionadas com produtos da terra, menos lindos mas certamente muito mais nutritivos e autenticos.
Abaixo a obsessão de comer e que viva a alegria das tradicionais e simples refeições mediterrânicas regadas moderamente por autentivo vinho de uvas.
Abaixo o culto da magreza que mais não é que uma reacção neurótica às disfunções sociais e humanas de que, cada vez mais, padecem as nossas sociedades ocidentais da superabundância e que vivam os saudáveis de comer com prazer sem esquecer que o que realmente importa é comer para viver e jamais viver para comer.
PEDRO DAMASCENO
Nestes tempos de “come-come e bebe-bebe” em que se perde, cada vez mais, a noção de refeição é estimulante reflectir um pouco sobre essa actividade imemorial que é o comer e beber.
Comer e beber são, antes de tudo, necessidades fundamentais da vida. Tão fundamentais que no advento do homem eram, mesmo, actividade principal. Os nossos antepassados mais longínquos passavam, possivelmente, a maior parte do seu tempo à procura dos imprescindíveis alimentos.
De lá até hoje - sociedade de consumo – passamos por muitas fases: pela fome pura e simples, pela escassez, pelos ciclos das estações e, sobretudo, pela alimentação remediada, fruto de muita criatividade e improvisação.
Até chegarmos a hoje, a sociedade da super abundância sem ciclos, com as “alternativas permanentemente oferecidas!. As novidades próprias das diferentes estações desapareceram, havendo sempre de tudo, todo o ano.
Os produtos caseiros, rústicos, desiguais são, obsessivamente substituídos pela norma, pela estandardização, pela embalagem estanque, pela assepsia. Exige-se “pureza”, certificado de origem, rotulo, etc. Pede-se pão branco, arroz branco e açúcar branco – perde-se a broa, o pão caseiro, o arroz com casacas e impurezas à mistura mas mais perto da realidade.
Solitário, estressado e inseguro o homem moderno devora e não come. Consoem produtos alimentares inventados para lhe captarem o apetite desmesurado e compensador das suas frustrações diárias. Como disse um médico ilustre “o come-come e o bebe-bebe triunfam enquanto morre a refeição”!
O prazer da comunhão à mesa, saboreando refeições confeccionadas com autenticidade e cuidado são substituídas por actos solitários de devorar “hamburgers”, pizzas, batatas pre fritas, croassãs etc possivelmente com música de furar os tímpanos.
Assim comer, como condição indispensável de vida, transforma-se em comer como risco de vida com a obesidade, a diabetes a crescer em flecha. Enterrou-se a “slow food” e deu-se lugar à “fast food”.
Os meus votos para esta, necessariamente breve, crónica é que nós açorianos – porque ainda estamos a tempo – consigamos parar com esta corrida para o sofrimento e a doença e retomemos os nossos hábitos ainda bem próximos da refeição comungada e geradora de saúde e bem estar.
Para isso há que tirar tempo para cozinhar e para comer, retomado tantas práticas que perdemos quando nos deparamos com as ofertas estonteantes dos super e hipermercados que nos modelam os nossos próprios desejos a uma lógica de mercado.
Vivam as nossas “velhas” refeições em torno de uma mesa de família confeccionadas com produtos da terra, menos lindos mas certamente muito mais nutritivos e autenticos.
Abaixo a obsessão de comer e que viva a alegria das tradicionais e simples refeições mediterrânicas regadas moderamente por autentivo vinho de uvas.
Abaixo o culto da magreza que mais não é que uma reacção neurótica às disfunções sociais e humanas de que, cada vez mais, padecem as nossas sociedades ocidentais da superabundância e que vivam os saudáveis de comer com prazer sem esquecer que o que realmente importa é comer para viver e jamais viver para comer.
PEDRO DAMASCENO
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